Bruchim Habaim - Sejam Bem Vindos à NetSinagoga

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Misheberach Lechaialei Tzahal

Misheberach Lechaialei Tzahal
Prece pelos Soldados de Israel - Aquele que abençoou nossos pais Avraham, Itschak e Yaakov, abençoará os soldados das Forças de Defesa de Israel, que guardam a nossa terra e as cidades de nosso D-us (...) O Santo, bendito seja Ele, guardará e livrará os nossos soldados de toda angústia e aperto, e de toda ocorrência e enfermidade, e mandará bênção e sucesso em todos os seus atos (...) e digamos AMEN. (que os méritos das preces e estudos aqui realizados sejam revertidos como bênçãos a Alisha bat Devora)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A regulamentação da eutanásia

Até que ponto temos o direito de optar entre viver ou morrer? O Senado holandês abriu, na última terça-feira, um precedente para o debate. Por 46 votos a favor e 28 contra, uma lei que legaliza a eutanásia foi aprovada, tornando a Holanda o único país a permitir a prática. A medida entrará em vigor após a assinatura da rainha Beatrix e a divulgação de sua regulamentação, o que deve ocorrer dentro de duas semanas. Dentre as especificações da lei, cabe ressaltar algumas regras:

O paciente precisa pedi-la a seu médico, voluntariamente, repetidas vezes;
Deve haver uma relação de grande proximidade entre os dois a fim de se impedir o "turismo da morte";
O médico deve considerar insuportável e irremediável o sofrimento enfrentado pelo doente;
Uma segunda opinião médica é necessária;

Após a prática segundo "um procedimento médico apropriado", conforme preconizado pelo Ministério da Justiça, deve-se informar a autoridade médico-legista municipal.
Todos sabemos as causas que levam à eutanásia: intensa agonia e total perda de esperança na cura. A provação é intensa e, às vezes, preferimos deixar de viver a passar por ela. A dor permeia os poros daqueles que sofrem fisicamente e daqueles que, impossibilitados de qualquer ação, assistem ao horrendo espetáculo de aflição. Uma lei como esta tenciona, sem dúvida, garantir a dignidade do paciente. Entretanto, estariam estas regras em conformidade com a Lei Judaica?

A vida humana é preciosa e sua preservação tem precedência sobre qualquer outra consideração. Isso inclui a obrigação de visitar o enfermo e a permissão de violar o Shabat para ajudar uma pessoa em risco de vida (Código de Leis, Shulchan Aruch, O.H. 328:2). A importância da vida é ressaltada na Torá: "e escolherás a vida!" (Deuteronômio 30:19) e enfatizada no Talmud: "aquele que salva uma vida é considerado como se salvasse todo o universo" (Sanhedrin 37a). Ao mesmo tempo, todo e qualquer ato contra a vida humana é visto como uma séria violação à santidade de D'us, de tal modo que qualquer incisão feita num moribundo (gosses) e que possa acarretar em sua morte, é considerada pela Lei como homicídio (Maimônides, Leis de Luto 4:5). Partindo-se da premissa judaica de que "D'us deu, D'us tirou", como mencionado no Livro de Jó, somente a Ele cabe estipular o fim de nossa existência terrena. Neste aspecto incluem-se o suicídio, certos tipos de aborto e a eutanásia, ato veementemente condenados. O Comitê para a Lei Judaica da Rabbinical Assembly, entidade que reúne as maiores autoridades rabínicas conservadoras, em concordância com a opinião ortodoxa, declarou, em 1994, que "a eutanásia é incompatível com a Lei Judaica e proibida".

Entretanto, em casos extremos, pode-se recorrer à eutanásia "passiva". Por exemplo: um doente ligado à aparelhos. Estes, às vezes, podem ser desligados para que o enfermo venha a falecer de causas naturais, o que não seria considerado assassinato.

Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

O segredo da sobrevivência judaica

Existe algum segredo para a sobrevivência judaica?
Dentre as várias respostas que podemos dar a esta pergunta, uma se encontra na Parashá desta semana, Shoftim (juízes): “quando te aproximares de uma cidade para guerrear contra ela, oferecer-lhe-ás a paz” (Deuteronômio 20:10). Em outras palavras, o povo foi ordenado a lutar, mas somente após todas as tentativas de paz terem-se findado.
A História Judaica não é marcada por grandes conquistas territoriais. E talvez aí resida um dos ingredientes fundamentais de nossa existência: o povo judeu é, por natureza, pacifista. Temos como bandeira principal a palavra Shalom, paz. Cantamos, rezamos e nos cumprimentamos com este singular verbete. O que poucos sabem é que Shalom também é, de acordo com a tradição, um dos nomes de D-us. Grandes impérios se levantaram, demonstrando força e poder, impondo suas culturas às nações subjugadas e estendendo territórios além de suas fronteiras. A guerra era o sinônimo de virtude. Entretanto, essas potências desapareceram, passando a existir apenas como mais uma matéria escolar.Para o judeu, a coragem e a bravura são demonstradas pela sua capacidade de promover e incentivar a paz. Como disse o profeta: “não pela força nem pelo poder, mas pelo espírito” (Zacarias 4:6). Nossa maior arma é a convicção no valor do judaísmo.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

domingo, 29 de julho de 2007

Tu Beav - o Dia do Amor


Com certeza você já ouviu falar sobre um dia especialmente dedicado ao amor. Aqui no Brasil, o protocolo do Dia dos Namorados exige a troca de presentes; nos Estados Unidos, o famigerado Valentine’s Day é celebrado pelos casais apaixonados com o envio de flores e assim por diante. O que poucos sabem é que nós judeus também temos uma data no calendário voltada a esta expressão máxima do sentimento humano. E mais: ocorre nesta semana!

Diz a Mishná (Taanit 4:8): “não houve maiores dias festivos para Israel que Tu Beav e Yom Kipur.” Tu Beav é o 15º dia do mês de Av, nesta próxima quarta-feira. Entretanto, paira uma dúvida: como é possível que uma Festa tão desconhecida por todos seja mencionada pela Mishná como um dos dois maiores Yamim Tovim, ao lado do tão sagrado Yom Kipur? Acaso 15 de Av tem o glamour do Seder de Pesach? Ou o brilho das chamas de Chanucá? Quem sabe as delícias do banquete de Purim?

Tu Beav não tem nada disso, mas nossa curiosidade fica ainda mais atiçada ao analisarmos a sequência da Mishná: “pois nestes dias as moças solteiras de Jerusalém costumavam sair com vestidos brancos e dançar nos vinhedos. O que diziam? Jovens rapazes, abram seus olhos e vejam o que escolhem para si.”

Tanto Yom Kipur como Tu Beav, na Antigüidade, eram Festas comemoradas com dança e júbilo. Esta última, porém, foi dedicada aos jovens judeus e judias em busca de seus pares. Até hoje, cartazes em Jerusalém anunciam preces especiais com esta finalidade, nesta data.

Qual é o motivo de tanta comemoração? Dentre vários episódios históricos, Tu Beav marcava o dia em que casamentos entre as diferentes tribos de nosso povo eram aceitos. Vale lembrar que, no deserto, tais relacionamentos eram proibidos visando a conservação das terras pelas tribos originais. Saindo da trágica lembrança da destruição dos Templos e outros tristes eventos em Tishá Beav, esta Festa expressa um tema fundamental: a união. Não fosse tal permissão para tais matrimônios, Israel ter-se-ia perdido como uma mera confederação de estados, porém nunca como uma nação.

Apesar disso, o amor, no judaísmo, cumpre um papel ainda mais importante. O grande cabalista Rabi Chaim Vital define o amor da seguinte forma: a palavra hebraica AHAVA (amor) tem o valor numérico 13 (todas as letras do alfabeto tem um valor e a Cabalá utiliza-se deste método, chamado guemátria – soma das letras – para explicar o universo, da seguinte forma: 1+5+2+5=13). O valor numérico do Nome de D’us é 26 (10+5+6+5). Assim, quando duas pessoas amam-se mutuamente, a combinação de seu amor (13+13), faz com que o Todo-Poderoso (26) esteja cada vez mais presente entre eles.


Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Saindo do cerco parte 2

O dia 9 de Av relembra a tragédia que assolou o povo judeu. O golpe mais duro em seu orgulho religioso: a destruição de seus Templos Sagrados. Focos de peregrinação por séculos, eles transformaram-se no centro de atenção do judaísmo, sendo comparado, por muitos escritores, ao coração humano. Com a destruição do Segundo Templo, inicia-se a Grande Diáspora, na qual o povo, outrora feliz em sua terra natal, torna-se um conjunto de apátrios, exilados a países desconhecidos, espalhados entre povos nem sempre amistosos.
Em nossas vidas também procuramos centralizar nossos “focos”. Voltamos nossas faces às coisas as quais damos valor; valor que, nem sempre, é merecido. Cultuamos estes valores como um templo. E, quando nosso “centro” é destruído, nossa estrutura fica completamente abalada, fazendo-nos cair por terra. Imaginamos que nada mais tem sentido, e que nossa vida perdeu totalmente o seu rumo.
Hoje vamos falar sobre o outro lado. O que ganhamos com a destruição?
A mística judaica ensina um conceito muito interessante: ieridá tsorech alyiá - queda em função de uma ascensão. Para entendermos melhor, nossos sábios contam a seguinte história:
“As pessoas repararam que o rabino Shelomo vivia passeando por lugares de péssima fama. Os fiéis começaram a pensar que havia abandonado a busca espiritual e agora só desejava divertimento.
As conversas circularam, e ninguém ia mais à sinagoga. Um rapaz resolveu advertir o rabino: - “O senhor freqüenta lugares suspeitos. As pessoas andam comentando e não gostam disso.
O rabino respondeu: - “Se você quer tirar um homem da lama, não basta estender a mão de longe, porque os braços são curtos demais. A única solução é também entrar na lama, segurá-lo firme e puxá-lo para fora. É exatamente isto que estou fazendo. E minha tarefa é mais importante que a hipocrisia dos falsos devotos.”
A queda nem sempre implica em rebaixar-se. Às vezes torna-se necessária uma destruição de nossos valores (aqueles que elegemos como tais), para mostrar-nos o quão valiosos realmente são. A destruição dos Templos de Jerusalém ensina que a santidade deve transcender as limitações do ouro, prata e pedra. Somente com a descida - a procura pela humildade - é que podemos reparar os pilares que sustentam a nossa existência. De baixo é que começamos a escalada rumo ao topo, passo a passo, degrau por degrau.

Eis os eventos que aconteceram no dia 9 de Av, na História Judaica:

· foi decretado que a geração libertada do Egito não entraria na Terra Prometida;
· os dois Templos foram destruídos;
· no ano 133, a cidade de Betar foi destruída, com a morte de cerca de meio milhão de judeus;
· em 1290, o rei Eduardo decretou a expulsão dos judeus da Inglaterra;
· em 1492, os reis da Espanha decretaram a expulsão dos judeus de seus domínios;
· em 1648, os cossacos atacaram a comunidade judaica de Constantinopla, matando três mil pessoas;
· em 1941, foi promulgado e decreto que criava o Gueto de Varsóvia;
· em 1942, forma inauguradas as câmaras ed gás de Auschwitz (23 de julho);
· em 1955, a primeira vez que um avião da El Al é abatido, no espaço aéreo búlgaro.

Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma boa semana a todos


Como são belas as maravilhas de D-us...

domingo, 15 de julho de 2007

Aprendendo a parar


A Parashá lida neste último Shabat trata sobre a permanência do nosso povo no deserto. Mais precisamente, relata todos os lugares onde acamparam. Quarenta e dois acampamentos em quarenta anos de travessia. O que mais chama a atenção, entretanto, é o nome da leitura: Massê. “Estas são as viagens (massê) dos filhos de Israel que saíram da terra do Egito...”(Números 33:1), assim relata a Torá. Mas que viagens são estas? Afinal, ficaram muito mais tempo acampados que propriamente dito viajando. Não seria mais correto dizer “estes são os acampamentos dos filhos de Israel”, já que a ênfase bíblica está nas suas paradas e não nas viagens? E mesmo assim, a viagem foi apenas uma e não várias: saíram do Egito e iam à Terra Prometida. O que aprendemos de tudo isso?
As paradas foram extremante importantes para o povo. Foi nelas que tudo de mais extraordinário aconteceu, tanto para o bem como para o mal. Foi na parada que o povo recebeu a Lei do Monte Sinai; foi nela que, também, curvou-se ante o bezerro de ouro. Foi na parada que colhia diariamente a maná – o alimento milagroso – que o sustentava; foi nela também que se rebelou juntamente com Corach e seus seguidores. Assim também, a parada era o momento de receber a revelação de D-us: o Eterno não se dirigia ao povo nas viagens, mas nas paradas. E a cada uma, um novo fato dava energia e impulso para que eles pudessem seguir adiante até seu objetivo final.
Nosso dia-a-dia não é diferente. Estamos acostumados ao movimento. A modernidade da vida faz com que valorizemos o dinamismo. Para ser mais, maior e melhor precisamos literalmente correr de um lado ao outro. Muitas vezes, nem mesmo sabendo o que procuramos. A vida é dinâmica, mas é nas paradas que o mais extraordinário acontece: construtores sabem que por melhor que sejam o material e trabalhadores empregados numa obra, se a massa não for deixada para descansar, jamais assentará; um bom lojista sabe que por mais grandiosas que sejam suas vendas, a menos que pare e feche para balanço, jamais saberá o quanto realmente lucrou. O maior exemplo disso é a matzá de Pessach. O que é ela senão um pão que não descansou? Chamado de lechem oni – o pão da miséria – ensina-nos que o pão que não pára jamais cresce e está condenado à miséria e descaso. No plano de santidade, encontramos também a virtude da parada: nosso momento mais sagrado na liturgia não é outro senão a Amidá, literalmente parada, no qual permanecemos de pé, em silêncio, sem qualquer gesto ou movimento. E o dia mais sagrado de nossa semana, o Shabat? O dia da parada, do descanso, da estagnação. O judaísmo não consagrada a correria dos seis dias da Criação, mas a inércia do sétimo. Sagrado não é saber pelo que corremos, mas sentir e deixar-se envolver pelos ensinamentos da parada.
Amigos, a vida é dinâmica, mas é nas paradas que tudo acontece. Paradas que escolhemos ou muitas vezes a nós são impostas. E há duas formas de se ver uma parada: um destino ou simplesmente uma escala. Ensinam nossos mestres na Ética dos Pais que “este mundo se assemelha a um corredor”. E assim como num corredor em que estamos de passagem, a vida é feita de escalas até nosso destino final. E a cada uma delas algo importante nos acontece, fazendo com que cada uma seja uma viagem por si só.
Talvez sua vida esteja parada; talvez você se encontre parado. Talvez a vida lhe mostre uma parede intransponível ou um obstáculo marcado pela dor, sofrimento e total estagnação. Pode parecer-lhe que qualquer reação tornar-se-á totalmente inútil. Mas lembre-se: é nas paradas que D-us se revela. Assim como todo atleta sabe que é necessário parar, recuperar o fôlego e retomar o impulso para alcançar novas marcas, assim também perceba que talvez, nesta parada, por mais dura que seja, uma voz venha do alto Lhe dizendo: você parou porque precisava; agora é momento de seguir adiante e chegar onde sempre quis.
Desfrute sua parada e faça boa viagem!

Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Guemilut Chassadim


“Sobre três pilares o mundo se sustenta: a Lei, o trabalho e atos de bondade”
(Ética dos Pais 1,2)





Chassadim é o plural de chessed. Guemilut é a prática, o ato. Em outras palavras, a prática de vários “chessed’s”. Mas o que vem a ser chessed?
Freqüentemente encontramos, nas traduções da Torá, as palavras piedade ou misericórdia. Porém, qualquer tradução interfere no conceito original, modificando-o. Chessed é chessed, não há o que discutir. Cabe citar Aron Barth:

Maimônides entendeu o termo muito bem e explicou que chessed leva mesmo ao “excesso”, especialmente de fazer o bem a alguém que não tem o direito de recebê-lo (Guia dos Perplexos 3, 53). Qual é a qualidade que leva a isso? É a misericórdia? Não; isso exprime muito menos do que o que se encontra nos numerosos versículos que citaremos. Piedade, assim como misericórdia, podem ser, em certos casos, o resultado de chessed, o resultado do sentimento expresso na palavra; mas chessed mesmo é mais do que isso. Chessed significa amor. Não é o amor entre noiva e noivo, pais e filhos; isto, em geral, é indicado pela palavra ahava. (...)

É importante entender que quando Maimônides diz “não tem direito” não significa “não merece”. O que o sábio quis dizer é “fazer bem a uma pessoa que não fez nada para merecê-lo”. Ou seja, nada de recompensas ou méritos. Apenas o bem por si só. Tal amor pode ser melhor entendido através da explicação do próprio Maimônides sobre o versículo “... e amarás a teu semelhante como a ti mesmo” (Levítico 19:18):

É o preceito com o qual fomos ordenados a amarmo-nos mutuamente tal qual nos amamos; que meu amor e compaixão por meu semelhante seja como meu amor e compaixão próprios; seja por seu dinheiro, seu corpo, tudo que possui ou deseja. Tudo o que quero para mim, hei de querer para ele identicamente e tudo o que não quiser nem para meus amigos, o mesmo desejarei para ele. (Sefer Hamitzvot 206)

Note que Maimônides não estipula quem é o semelhante ou qual seu grau de proximidade para conosco. Tal amor, portanto, é incondicional. Amor pelo simples motivo de amar.

Porém, surge outra questão: como expressar tal amor? Maimônides dá a resposta:

São preceitos positivos, ensinados por nossos sábios: visitar um enfermo, consolar os enlutados, ajudar uma jovem humilde a casar-se, acompanhar as visitas, ocupar-se com todas as necessidades de um funeral, bem como alegrar os noivos no dia de seu casamento. Estes são atos de Chessed que se deve executar em pessoa e que não tem limitações. (Mishnê Torá, Leis do Enlutado 14,1)

No caso de um funeral, tal amor é considerado chessed shel emet, o verdadeiro chessed, uma vez que, por mais que esperemos, será impossível uma retribuição.

Uma importante ressalva precisa ser feita, para não confundir termos. Vimos sobre a Tsedaká, que é a prática da justiça social. Podemos confundir-nos, acreditando que tanto ela como Guemilut Chassadim implicam numa mesma conduta:

Ensinam nossos mestres: Guemilut Chassadim é superior à Tsedaká de três modos:

1) Tsedaká envolve apenas dinheiro. Guemilut Chassadim pode envolver tanto dinheiro quanto a pessoa;
2) Tsedaká pode ser dada apenas ao pobres. Guemilut Chassadim pode ser feito a pobres e ricos;
3) Tsedaká pode ser dada apenas aos vivos. Guemilut Chassadim pode ser feito a vivos ou mortos. (Talmud Sucá 49b)

Vários exemplos de Guemilut Chassadim podem ser encontrados em nossa literatura. A Torá começa e termina com Guemilut Chassadim, por exemplo. Em Gênesis 3:21 lemos que Deus, antes de expulsar Adão e Eva do Jardim do Éden, “fez roupas de pele para eles e os cobriu”. Já no final, tratando da morte de Moisés, o Todo-Poderoso o enterrou no vale (Deuteronômio 34:7).
Atualmente, encontramos Guemilut Chassadim sob várias formas: ocupar-se com um funeral - costurando os tachrichin (mortalha) ou apenas acompanhando-o -, costurando roupas para pobres, visitar doentes, consolar enlutados, emprestar dinheiro, ajudar nos preparativos de um casamento, etc. Com relação a este último, nossas comunidades irmãs ortodoxas costumam ter um departamento especializado, chamado Hachnassat Calá – “ajudar uma noiva a ‘entrar’”. Elas também costumam ter um departamento exclusivo para a difusão e prática de Guemilut Chassadim, chamado


GUEMACH




que são as inicias de Guemilut Chassadim. Neste contexto, o voluntariado é imprescindível para o cumprimento desta importante Mitzvá. É na figura do voluntário – askan, em hebraico - que é sintetizada toda a essência deste preceito.

Para melhor entendermos a conexão e as diferenças entre Tsedaká e Guemilut Chassadim, basta refletirmos sobre a seguinte história:

Rabi Levi Itschak, rabino-chefe da cidade de Berditchev, havia feito um acordo com os líderes comunitários de que só interromperia seus sagrados estudos caso surgisse alguma novidade. Certa vez, ele foi chamado. Um acirrada discussão tomava conta da sala de reuniões. O motivo: alguém havia tido a “grande” idéia de colocar uma caixa de caridade na porta da sinagoga. Havia, inclusive, uma explicação: os pobres não precisariam mais pedir de porta em porta. As pessoas poderiam doar de acordo com suas possibilidades e os pobres retirariam conforme suas necessidades.
Rabi Levi Itschak irritou-se: “Mas foi para isso que vocês me chamaram? Acaso não havíamos combinado de que só seria chamado em caso de novidade?
Os líderes não entenderam: “Mas, rabino. É uma nova idéia!”
“Não há nada de novo nisso.” – disse o mestre – “Na realidade, é uma idéia muito antiga. Os moradores de Sodoma e Gomorra já o faziam. Eles tinham uma caixa, na qual os ricos deixavam seus donativos, assim não precisavam olhar nos olhos dos pobres.”



Questões para reflexão:

1) O que você aprendeu com esta história?
2) Como podemos aplicar Guemilut Chassadim aqui em nossa vida?
3) Como aprimorar a participação do voluntariado em nossas atividades?

Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mulheres pela defesa de Israel


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terça-feira, 10 de julho de 2007

VERGONHA - SINTUSP - Queremos a destruição de Israel


Você pode não ter paciência para ver todo nosso material no YouTube, mas deve assistir a este vídeo de 4m30s colocado no ar pelo SINTUSP (sindicato de trabalhadores da Universidade de São Paulo), funcionários públicos federais, pagos com o dinheiro dos impostos que arrecadamos defendendo a destruição de Israel, a destruição da burguesia, a destruição de todos os Estados e dizendo que os trabalhadores brasileiros precisam estar ombro a ombro, lado a lado com o Hezbollah, que é marxista... e que o conflito no Oriente Médio é entre burgueses e proletariado oprimido... Está muito claro que é isso que defendem em suas "escolas", reuniões, publicações de sindicatos etc. É vergonhoso! O vídeo foi produzido pelo SINTUSP e veiculado pelo SINTUSP. Eles têm orgulho do que fazem... Sugerimos que sejam lidos os comentários a este vídeo lá no YouTube.

http://br.youtube.com/watch?v=RnljOrCf1b0

Fonte: FIERJ

Parashá da Semana


Matot-Massei (Números 30:2 - 36:13)


Neste Shabat lemos duas Parashiot: Matot e Maasê. A Parashá de Matot, que significa chefes das tribos à quem fora ensinad leis referentes à promessa ou juramentos que a pessoa possa fazer. Estas promessas deverão ser fielmente cumpridas. Salvo em casos específicos como no caso de uma mulher que fez uma promessa a seu pai, antes dela casar, ou aseu marido, após o seu casamento, cancelarem esta promessa no dia em que eles tomaram conhecimento, esta se torna nula. A Parashá segue relatando a guerra contra Midyan, no qual mil homens de cada tribo foram destacados. Foram mortos os soldados, generais e reis de Midyan, assim como as mulheres que corromperam os israelitas. Nesta ocasião foram ensinados as leis referentes a Casherização (tornar um utensílio apto para a cozinha Casher), pois o estojo da guerra incluía muitos utensílios. Aqueles usados diretamente no fogo deveriam ser casherizados com fogo. Os outros utensílios eram imersos em água fervendo. Todos eles eram submetidos a Micvá (banho ritual) para assim serem purificados. A Parashá especifica o total dos animais capturados e como eles foram divididos entre os soldados e o resto do povo, ficando uma porcentagem ( de 1/500) para os Cohanim e ( de 1/50) para os Leviim. A Parashá segue relatando o pedido da Tribos de Reuven, Gad e metade da tribo de Menashe que queriam ficar morando nas terras já conquistadas do lado oeste da Terra de Israel, onde havia muito pasto para o seu gado. Moisés aceitou na condição de que os homens destas tribos em idade de guerra entrassem na Terra de Israel para ajudar na conquista da terra. A Parashá de Maasê (viagens, jornadas) que encerra o quarto livro da Torá, inicia especificando as quarenta e duas paradas e os acontecimentos durante os quarenta anos no deserto. Continua relatando as palavras de D-us referente à conquistas e destruição de toda a idolatria existente em Israell. Especifica em detalhes os limites da terra a ser conquistada e dividida. Nomeia o responsável de cada tribo nesta divisão. Ordena a entrega aos leviim de quarenta e duas cidades, incluindo os seus arredores em um raio de 1,2 km. Pois estes não receberiam Terra juntamente com o resto do povo. A Parashá ensina as leis referentes a uma pessoa que matou involuntariamente. Este tinha que se refugiar de parentes da vítima em uma das seis cidades previamente separadas para esta finalidade. Se após o julgamento ficasse comprovado que de fato matou sem querer, passava a viver em uma destas cidades até o falecimento do Cohen Gadol (Sumo-Sacerdote) vigente. A Parashá termina relatando que as cinco filhas de Tselofchad, casaran-se com homens da mesma tribo a que pertenciam, a tribo de Menashe, ficando assim as suas propriedades de herança dentro da mesma tribo.

Fonte: Oneg Shabat

Chinuch - Educação Judaica


“Jerusalém foi destruída porque as crianças deixaram de freqüentar as escolas” (Talmud Shabat 119a)




A grande importância atribuída à educação na Lei Judaica e literatura não encontra paralelos. A Torá claramente indica a importância do estudo e crescimento mental desde o berço e por toda a vida. O propósito da educação sob a perspectiva bíblica é desenvolver indivíduos que tenham a capacidade de refletir sobre os valores éticos e morais contidos na Torá e, conseqüentemente, aplicá-los em seu cotidiano.
Educação é, antes de mais nada, uma obrigação dos pais, como está escrito: “E as inculcarás” – as palavras do Eterno – “a teus filhos e delas falarás, sentado em tua casa, andando pelo caminho e ao deitar-te a ao levantar-te”(Deuteronômio 6:7). Quatro vezes ao dia recitamos esta passagem, que compõe o primeiro parágrafo do hino à unicidade Divina – o Shemá Israel.
No escopo da Lei Judaica, a educação é chamada de chinuch, ou seja, um desenvolvimento intelectual baseado nos valores judaicos. A palavra chinuch também significa inauguração; ou seja, “inauguramos” uma nova vida, permeando-a de conteúdo sólido e consistente. Este tema aparece com freqüência na Torá e Profetas. Com relação a Abrãao, encontramos a seguinte passagem: “Porque o conheci e sei que ordenará a seus filhos e à sua casa depois dele de modo que guardem o caminho do Eterno, para fazer caridade e justiça” (Gênesis 18:19).
Basicamente, o judaísmo reconhece o lar como o fundamento educacional para o desenvolvimento moral da criança. É conhecido o fato de que “o que a criança diz na rua, é o que ouviu em casa de seu pai e sua mãe” (Talmud Sucá 53 – Rashi). Em outras palavras, a criança tende a imitar seus pais, extraindo de sua conduta exemplos para si mesma. Este é o primeiro e mais essencial cuidado na criação dos menores: o educador precisa ser o exemplo vivo daquilo que ensina, uma vez que a criança se identifica com ele. Exigir um comportamento não condizente com as atitudes do educador e/ou realidade familiar da criança (por exemplo: ensinar a obrigação do acendimento das velas do Shabat, porém a mãe não o faz em casa) é confundir ainda mais aquela cabeça ávida por novas descobertas. Num primeiro momento, tal confusão poderá ser contornada. Porém, dúvidas não esclarecidas podem acabar resultando em revoltas contra todo o processo. Uma pequena história reflete bem este problema:

Johnny tinha seis anos de idade e estava em companhia de seu pai quando este foi flagrado em excesso de velocidade. O pai entregou ao guarda, junto à sua carteira e habilitação, uma nota de vinte dólares. “Está tudo bem, filho “- disse ele. “Todo mundo faz isso”.
Quando tinha oito anos, deixaram que ele assistisse a uma reunião de família dirigida pelo tio George, sobre a maneira mais segura de sonegar o Imposto e Renda. “Está tudo bem, garoto”- disse o tio. “Todo mundo faz isso”.
Aos nove anos, a mãe levou-o pela primeira vez ao teatro. O bilheteiro não conseguiu arranjar lugares até que a mãe do Johnny lhe deu “por fora” cinco dólares. “Está tudo bem, meu filho. Todo mundo faz isso”.
Com dez anos, ele quebrou os óculos à caminho da escola. A tia Francine convenceu a companhia de seguro de que eles haviam sido roubados e recebeu uma indenização de 75 dólares. “Está tudo bem, querido sobrinho. Todo mundo faz isso”.
Aos quinze anos, foi escolhido para jogar como lateral direito no time de futebol da escola. Os treinadores lhe ensinaram como interceptar e, ao mesmo tempo, agarrar o adversário sem ser visto pelo juiz. “Está tudo bem, campeão. Todo mundo faz isso.”
Aos dezesseis anos, arranjou seu primeiro emprego nas férias de verão, trabalhando num supermercado. Seu trabalho: pôr morangos maduros demais no fundo das caixas e os bons em cima, para ludibriar o freguês. “Tudo bem, garoto.”- disse o gerente – “Todo mundo faz isso”.
Já com dezoito anos, Johnny e um vizinho candidataram-se a uma bolsa de estudos. Johnny era um estudante medíocre. O vizinho, pelo contrário, era um dos primeiros da classe, mas um fracasso como lateral direito no time de futebol. Johnny ganhou a bolsa. “Está tudo bem, filho.” – disseram os pais - “Todo mundo faz isso.”
Quando tinha dezenove anos, um colega mais adiantado lhe ofereceu, por cinqüenta dólares, as questões que iam cair numa prova. “Tudo bem, colega. Todo mundo faz isso.”
Johnny, flagrado colando, foi expulso da sala e voltou para casa com o rabo entre as pernas. “Como foi que você pôde fazer isso com sua mãe e comigo?” – disse o enfurecido pai. “Você nunca aprendeu essas coisas em casa!” O tio e a tia também ficaram chocados.
Se há uma coisa que o mundo adulto não pode tolerar é um garoto que cola nos exames...


É justamente no fazer ou deixar de fazer que reside a base da formação do indivíduo; o jovem assume como correto o que seus educadores (pais e/ou mestres) fazem. Porém, cabe a estes a responsabilidade pela qualidade dos exemplos a serem passados. No caso dos pais, a educação pelo exemplo deve começar desde cedo, como conta a seguinte anedota:

Certa vez uma jovem mãe foi pedir um conselho a um sábio sobre quando começar a educação de seu primeiro filho. “Qual é a idade da criança”- perguntou o sábio. “Ela só tem alguns dias” – respondeu a mãe. E concluiu o sábio: “Então a senhora está nove meses atrasada!”

Nossos sábios foram além, afirmando que a educação deva começar tão logo a criança aprenda a falar (Talmud Sucá 42a), pois o perigo de seu adiamento reside na possibilidade de nunca vir a se concretizar.
Ao mesmo tempo, a família é, segundo a Torá, o mais importante pilar desta instituição. É a união, convivência e, principalmente, prática familiares que solidificam a formação do educando. Famílias desestruturadas geram filhos desestruturados, sendo que tanto o pai quanto a mãe são igualmente responsáveis por ensinar ao filho os valores judaicos para que ele mesmo possa se desenvolver como um bom judeu, como está dito: “Educa o pequeno conforme seu caminho, pois, por mais que envelheça, não se desviará dele” (Provérbios 22:6). São eles os responsáveis pela formação do caráter da criança; uma vez consolidado, o terá como suporte por toda sua existência.
Neste contexto, a palavra chinuch pode parecer um tanto vaga. Sabemos que os pais são os responsáveis pela educação da criança. Mas, de acordo com nossos sábios, como se dá isso? “O pai tem para com seu filho as obrigações de circuncidá-lo, redimi-lo, ensinar-lhe a Torá, casá-lo e ensinar-lhe um ofício. E há quem diga: ensinar-lhe a nadar. Rabi Iehudá diz: todo aquele que não ensina a seu filho um ofício ensina-o a roubar” (Talmud Kidushin 29a). Nadar significa aprender a se defender. Assim como um nadador depende unicamente de sua habilidade, assim também o educando necessita conhecer seus potenciais, a fim de que possa sobreviver independentemente. Não obstante, a Torá reconhece, na mãe, um maior potencial educacional, uma vez que o vínculo se dá muito antes do nascimento, sendo que, tradicionalmente, chinuch encontra-se no conjunto de mitzvot específicas da mulher. De qualquer forma, ambos são responsáveis.
Num plano mais genérico, a comunidade também exerce seu papel fundamental. Desde os tempos de Moisés – que reunia multidões para propagar a palavra de D-us – a educação é uma missão comunitária. No Talmud, os pequenos alunos são chamados de tinokot shel beit raban – os bebês de seus mestres – ressaltando o caráter vital, íntimo e pessoal que a educação exercia e ainda exerce em nossa sociedade. Vale ressaltar que, na Idade Média, em épocas e lugares nos quais a educação infantil era simplesmente ignorada, as comunidades judaicas sempre tiveram vivas suas escolas. Mesmo no paupérrimo shtetl, sempre houve um meio de educar as crianças – o cheder. Cheder – nome até hoje utilizado para as escolas infantis ortodoxas – significa “quarto”. Mesmo na mais miserável das comunidades, nunca deixou de existir um pequeno e insalubre quarto, muitas vezes contendo apenas uma mesa, uma cadeira e uma vela, mas no qual a tradição e histórias judaicas eram passadas de geração em geração. Na História Judaica mais recente, a primeira missão do imigrantes ao desembarcarem nas Américas foi criar escolas judaicas, nas quais seus filhos pudessem manter acesa a chama do judaísmo.
Cabe citar trechos do artigo “O segredo da riqueza dos judeus”, de Gilberto Dimenstein, publicado na Folha de São Paulo de 26/01/97:

Desde seu lançamento, em 1901, o Prêmio Nobel foi conferido a 700 personalidades – 140 deles judeus. É uma estatística que impressiona: os judeus são, hoje, uma grupo de 16 milhões, num planeta habitado por quase 6 bilhões de pessoas. Mas são responsáveis por boa parte das grandes novidades científicas do século.
Um livro prestes a ser divulgado no reino Unido, preparado por um advogado de Nova York – Michael Shapiro – vai atiçar ainda mais a mística sobre uma suposta inteligência superior dos judeus. Depois de fazer pesquisa com filósofos, rabinos, escritores e cientistas, Shapiro produziu a lista dos cem mais importantes judeus. Estão alguns dos maiores pensadores e criadores da humanidade. Moldaram o que pensamos e até como nos vestimos. Existe algum segredo? (...) Como um povo tão pequeno consegue gerar tantos super-homens intelectuais? O segredo é que não existe segredo.
Por motivos religiosos, o analfabetismo é inexistente entre os judeus. Aos 13 anos, o menino é obrigado a subir ao púlpito e ler trecho do livro sagrado (Bar-Mitzvá). Portanto, ele deve saber pelo menos uma língua. Os judeus são ensinados a reverenciar a rebeldia intelectual – rebeldia sintetizada em Abrãao, ao destruir os deuses e inaugurar o monoteísmo. Nada mais é do que os educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. (...)
Nenhum povo foi tão perseguido e humilhado por tanto tempo como os judeus, o que gerou uma série de efeitos colaterais. Um deles é o valor da educação para a sobrevivência. Podem arrancar suas terras, propriedades, mas não o que está em suas cabeças.(...) Não há nenhum segredo dos judeus escondido na genética ou escolha divina. Só o óbvio: culto à educação.






Chinuch é uma meta a ser atingida por todos nós. Mas, para isso, é importante que as três vértices do triângulo ( FAMÍLIA/ COMUNIDADE/ CONGREGAÇÃO e ESCOLA) trabalhem em conjunto, propiciando uma educação de base e, ao mesmo tempo, mecanismos para que as teorias possam ser aplicadas na prática.

Rabi Tarfon e os anciãos estavam reunidos quando uma questão se apresentou diante deles. “ Qual é maior: o estudo ou a prática?” Rabi Tarfon respondeu: “A prática é maior”. Rabi Akiva replicou: “o estudo é maior, sempre que levado à prática”. E os anciãos, em uníssono, disseram: “o estudo é maior, sempre que levado à prática.” (Talmud Kidushin 40b)




Questões para reflexão:


1) O que é chinuch para você?
2) Como você aplica este conceito na sua família?
3) Reflita sobre a frase: “Educação sem visão é como presente sem futuro” (P. Shifman). Agora, responda: o que pode ser feito para melhorar o chinuch em sua comunidade?
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Construindo pontes


Certa vez, dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida trabalhando lado a lado, repartindo as ferramentas e cuidando um do outro. Durante anos percorreram uma estreita, porém comprida estrada que corria ao longo do rio para, ao final de cada dia, poderem atravessá-lo e desfrutarem um da companhia do outro. Apesar do cansaço, faziam-no com prazer, pois se amavam. Mas agora tudo havia mudado. O que começara com um pequeno mal entendido finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Ao abri-la, notou um homem com uma caixa de ferramentas de carpinteiro em sua mão. “Estou procurando por trabalho”- disse ele. “Talvez você tenha um pequeno serviço aqui e ali. Posso ajudá-lo?”
“Sim!” – disse o fazendeiro – “Claro que tenho trabalho para você. Veja aquela fazenda além do riacho. É de meu vizinho, na realidade, meu irmão mais novo. Brigamos muito e não mais posso suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira perto do celeiro? Quero que você me construa uma cerca bem alta ao longo do rio para que eu não mais precise vê-lo.
“Acho que entendo a situação”- disse o carpinteiro – “Mostre-me onde estão a pá e os pregos que certamente farei um trabalho que lhe deixará satisfeito.” Como precisava ir à cidade, o irmão mais velho ajudou o carpinteiro a encontrar o material e partiu.
O homem trabalhou arduamente durante todo aquele dia medindo, cortando e pregando. Já anoitecia quando terminou sua obra, ao mesmo tempo que o fazendeiro retornava. Porém, seus olhos não podiam acreditar no que viam. Não havia qualquer cerca! Em seu lugar estava uma ponte que ligava um lado do riacho ao outro. Era realmente um belo trabalho, mas, enfurecido, exclamou: “Você é muito insolente em construir esta ponte após tudo que lhe contei”
No entanto, as surpresas não haviam terminado. Ao erguer seus olhos para a ponte mais uma vez, viu seu irmão aproximando-se da outra margem, correndo com seus braços abertos. Cada um dos irmãos permaneceu imóvel de seu lado do rio, quando, num só impulso, correram um na direção do outro, abraçando-se e chorando no meio da ponte.
Emocionados, viram o carpinteiro arrumando suas ferramentas e partindo. “Não, espere!”- disse o mais velho – “Fique conosco mais alguns dias. Tenho muitos outros projetos para você”
E o carpinteiro respondeu: “Adoraria ficar. Mas tenho muitas outras pontes para construir.”
Assumamos uma missão em nossos corações: vamos construir pontes! Quando a vida impuser um rio de separação entre nós, não nos sirvamos disso como desculpa para abandonar o campo de batalha. Quando houver injustiça e solidão na outra margem, não tenhamos medo de correr ao outro lado com os braços abertos. É muito mais fácil fechar-se numa cerca e proteger-se dos problema. Afinal, construir uma ponte requer mais empenho; podemos nos molhar nas turbulentas águas da frustração e abrimos espaço para que o inimigo penetre em nossas vidas. É bem mais prático um muro! Mas precisamos arriscar. Só quem arrisca vive! Em hebraico, ponte escreve-se GUESHER. Com as mesmas letras, escrevemos REGUESH – sentimento, sensibilidade. Diz o Talmud (Brachot 6a): dvarim haiotsim min halev nichnassim el halev – o que sai do coração imediatamente entra no coração. Se começarmos a construir nossas pontes em nossos corações, com certeza atingiremos nossos objetivos.


Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

Conhecimento ou heresia?

“Fundamento dos fundamentos e pilar dos conhecimentos é saber que existe uma Existência inicial; e Ele cria toda a criação...”. Assim começa Maimônides (séc. XII) sua tão célebre obra, o Mishnê Torá.
Saber que existe D-us. Saber como?
Eis uma boa pergunta. O autor, na continuação, em vez de dar-nos uma justificativa à sua afirmação, concentra-se , apenas, em enumerar uma série de fatores que unem todo o universo à figura Divina: o sol, a lua, as órbitas, os anjos, os quatro elementos, etc. Aprendemos, no decorrer da leitura, uma grande lição sobre astronomia, mística, geologia. Mas, voltando à nossa pergunta: como saber que Deus realmente existe? E não somente isso: mais adiante (Teshuvá 3, 7), Maimônides classifica de herege todo aquele que nisso não acreditar.
Nossa natureza faz-nos acreditar e conhecer somente aquilo que temos diante de nossos olhos. Tudo o que pode ser tocado, mexido, analisado ou “desmontado”. Nossa lógica faculta-nos a permissão de afirmar com um “sim” somente o que nosso raciocínio humano consegue captar. Com a evolução do homem e seu conseqüente desenvolvimento intelectual, muitas das perguntas - que antes eram apenas respondidas com um sacrifício ou uma oferenda, por exemplo - passaram a se revestir de mistério e magia à humanidade. E muitos cientistas, na busca da verdade observada, testada e comprovada, durante séculos negaram a existência de um Criador. Por quê? Simplesmente pelo mesmo motivo que Maimônides também não esclareceu: como saber que Ele existe?
Na realidade, para responder a esta pergunta, e necessário adentrarmos um pouco mais a fundo nas bases da fé judaica. Dizer que temos resposta à todas às nossas perguntas é contrário ao próprio espírito judaico: o de questionar e duvidar. O próprio Moisés, ao perguntar a D-us qual o Seu nome para transmitir ao povo, recebeu como resposta: “... serei o que serei...” (Êxodo 3:14). Acaso isto é uma resposta? A verdade é que, segundo a Cabalá, nem mesmo Moisés, cujo nível profético não pôde ser alcançado pelos demais profetas bíblicos, pôde, à primeira vista, realmente saber se Ele existe, uma vez que nem mesmo ele teve acesso a essência Divina. Cientificamente falando, Moisés não teve como “testar” a existência de Deus e saber como Ele “funciona” exatamente. Cientificamente falando, pode ser que ele teve uma alucinação e as dez pragas, como vem sendo discutido, fenômenos naturais. E se disserem: mas, diante do Monte Sinai, segundo a tradição, todos ouviram a voz divina! Cientificamente falando, debaixo do sol daquele deserto pode-se ouvir e ver o que quiser.
E é aí que entra a fé. Existem dois meios de analisarmos um objeto: derech hachiuv (afirmação positiva) e derech hashlilá (afirmação negativa). Tome por exemplo, um objeto que está diante de você neste momento. Que tal este monitor? Pelo primeiro método, você pode afirmar que ele é feito de vidro, é quadrado, etc. Já pelo segundo, você pode dizer que ele não é feito de madeira ou qualquer outro material, que não é redondo, etc. Você está negando alguma coisa? Muito pelo contrário. Você está apenas afirmando o que não é! E é esta a disputa entre a ciência e a fé: para a ciência, somente o que pode ser afirmado “positivamente” é aceito como existência e somente então pode ser publicado nas revistas científicas mais importantes; já para a fé, saber o que determinada coisa não é já é conhecimento. No caso, D-us. Podemos não saber o que Ele é. Mas sabemos o que ele NÃO é! Sabemos que Ele não é apenas este jornal que está em suas mãos. E isto já é um belo passo.
Porém, falei sobre disputa entre ciência e fé. Seriam contraditórias? Claro que não. Judaicamente falando, esta é a única heresia para Maimônides. Os seres humanos, dotados de inteligência, devem, por sua natureza, pesquisar e pesquisar até desvendar todos os mistérios que os cercam. É este o papel da ciência. Ela funciona como um trampolim para a fé. Até onde podemos alcançar... não devemos medir esforços para fazê-lo. E, a partir deste ponto, devemos crer. Mas nunca sem antes tentar descobrir o que é. Aceitar que D-us é D-us simplesmente porque alguém disse ou está escrito em algum livro, esta é a heresia. Aceitar D-us porque cientificamente podemos afirmar sua existência e, principalmente, sentimos, isto é judaísmo. Assim, Moisés e o povo souberam que “serei o que serei” significa a existência de um ser diferente de todos os que conheciam. E por que a disputa? Pois ambas não reconhecem sua interdependência. E não sou eu quem digo isso: “a ciência sem a fé é manca; porém, a fé sem a ciência é cega!” (Albert Einstein). Quem sabe, um dia...
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Vaticano pode reviver oração que propõe conversão de judeus

Religiosos vêem medida como retrocesso nas relações do Estado com o Judaísmo

ROMA - O Vaticano divulga neste sábado, 7, um decreto que prevê o retorno das missas em latim e que pode reintroduzir aos rituais católicos nas igrejas uma polêmica oração que pede a conversão de judeus ao catolicismo.

A probabilidade do retorno da oração, que havia sido colocada de lado da liturgia católica na década de 1960, ganhou repercussão na imprensa e preocupa grupos do diálogo entre cristãos e judeus, que avaliam a medida como um retrocesso da postura atual do Vaticano em relação ao Judaísmo.

“Espero que seja um alarme injustificado”, disse à BBC Brasil Riccardo Di Segni, rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma. “Espero que não aconteça nada disto, que sejam apenas rumores.”

No Vaticano, ninguém comenta o assunto. Há apenas uma declaração de que não é possível confirmar ou desmentir qualquer informação, porque o documento assinado pelo papa Bento XVI é considerado secreto até o momento da publicação. Ao certo, sabe-se apenas que o papa quer permitir o retorno da missa em latim.

A parte do missal que gerou a polêmica diz: "Oremos pelos judeus, para que Deus retire o véu que cobre seus corações e lhes faça conhecer nosso senhor Jesus Cristo".


Prejudicial
Luigi Accattoli, vaticanista do jornal Corriere della Sera, aposta na possibilidade de que o papa coloque no texto uma cláusula excluindo a oração, que, teme-se, possa prejudicar as relações entre católicos e judeus.

“Em nome da sua nacionalidade e da militância que teve no passado na juventude nazista, torço para que o papa Bento XVI tenha sensibilidade suficiente para excluir estes versos”, afirmou o teólogo Brunetto Salvaranni, especialista em diálogo cristão-judaico. “Mas se isto realmente acontecer, será muito grave e provocará grande abalo no diálogo entre judeus e católicos”.

O texto do papa sobre o retorno da missa em latim está pronto há vários meses. Mas seu lançamento vem sendo adiado sem maiores explicações.

No final do mês passado, Bento XVI esteve reunido com um grupo de 25 bispos, quando foram distribuídas as primeiras cópias do documento e da carta que será enviada aos episcopados de todo o mundo.

Segundo alguns bispos que participaram do encontro, o papa foi muito claro ao dizer que a antiga forma de celebrar a missa passará a ser o novo rito nas igrejas.


Missa em latim
O documento do pontífice, conhecido como Motu Proprio Summorum Pontificum, dará mais liberdade para que os padres celebrem missas em latim.

Hoje, eles precisam pedir autorização às dioceses para celebrá-la e, na maioria das vezes, os bispos se recusam a dá-la.

Há uma grande expectativa - e um grande mistério - em torno do teor da carta explicativa do papa que acompanhará o documento.

Em Roma, especula-se que, além de agradar os tradicionalistas, ela possa trazer críticas a sacerdotes carismáticos que avançaram nas celebrações além das determinações do Concílio Vaticano II, com a inclusão de músicas e danças populares.

No caso do Brasil, o exemplo mais notório é o do padre Marcelo Rossi. O retorno da missa em latim agrada aos tradicionalistas, que rejeitaram as reformas aprovadas pelo Concílio Vaticano II, entre elas a troca do latim pelos idiomas locais na liturgia.

No entanto, o decreto é polêmico entre os defensores das reformas feitas na década de 1960 - que mudaram a postura da Igreja, afirmando o amor de Deus pelos judeus e conclamando o respeito e a cooperação diante dos outros credos religiosos.

À estas alterações é creditada uma melhora nas relações entre católicos e judeus, pois elas dão destaque às raízes judaicas do cristianismo e rechaçam a culpa coletiva dos judeus pela morte de Jesus Cristo.

Os contatos foram intensificadas com o pontificado de João Paulo II, que esteve numa sinagogga em Roma, em 1985, visitou Jerusalém e pediu perdão pelos erros dos católicos diante dos judeus.

Na avaliação dos reformistas, a volta do latim poderá incentivar os conservadores a seguir questionando as reformas do Concílio Vaticano II, podendo gerar mais divisões na Igreja Católica.
Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Espetáculo de horror - Fim de Farfour





Para quem não sabe a história, resumirei aqui. Este é Farfour (borboleta em árabe), um clone do Mickey e protagonista de um programa infantil (isso mesmo, infantil) da TV do Hamas em Gaza. Qual sua função? Exortar as crianças palestinas ao martírio e incitá-las ao ódio contra Israel e o Ocidente. Após muitas críticas do mundo todo (e total omissão e descaso da Disney), o Hamas concordou em retirá-lo do ar, mas do seu próprio jeito: Farfour não "cede" às pressões dos "terroristas" (leia-se israelenses) que "roubaram" as terras de seus antepassados e acaba sendo "morto" por um ator trajando roupas israelenses.
Este é o espetáculo de horror vivido pelas pobres crianças palestinas doutrinadas à violência.

O tesouro do Shabat


“Disse o Eterno a Moisés: Um belo presente tenho em meu tesouro e Shabat é o seu nome; e quero dá-lo a Israel...” (Talmud Shabat 10A)


O Shabat é o tesouro mais valioso que temos neste mundo e mais ainda: é nosso maior companheiro. Ele possui a força de transformar até mesmo a casa do mais pobre em um paraíso real e verdadeiro, pelo menos no aspecto espiritual.
O homem repete, em sua vida, o exemplo Divino. Durante seis dias trabalha incessantemente à procura de seu sustento, assim como o Criador, quem dedicou os primeiros seis dias iniciais para tornar a Criação perfeita em seus mínimos detalhes. Mas quando chega o Shabat, como num passe de mágica, transforma-se em outra pessoa. Assim como o Todo-Poderoso, consagra o sétimo dia à reflexão e contemplação da obra criada. E a mudança que nele ocorre é indescritível.
O Midrash se encarrega de explicar. D-us vira que os hebreus, no Egito, não tinham descanso. Então, dirigiu-se ao Faraó e disse: “o escravo que não tem um dia de descanso tem sua vida ameaçada”. Graças ao Shabat, estabeleceu-se o princípio segundo o qual os homens têm o direito de viver livres da escravidão imposta pela ininterrupta luta do dia-a-dia e de desfrutar, no seu sentir e pensar, a liberdade necessária para que possam sentir e vivenciar a sua origem Divina. Todas as suas preocupações e tormentos são esquecidos e um sentimento de alegria e tranqüilidade, que preenche todo seu coração, contagia todos os que o cercam. Absorvemos do Shabat incentivo, força, esperança e felicidade inacreditáveis.
Mendele Mocher Sfórim (1839-1917) assim descreve este dia: “nos dias úteis, o judeu é como uma larva em repouso, inerte em seu casulo; mas na véspera do sábado... rompe seu invólucro e logo se converte em uma magnífica borboleta, uma alma sublimada cheia de sentimentos puríssimos...”. Esta alma, uma alma adicional - Nefesh Yeterá - é desenvolvida em nós pelo Shabat, através da transformação na sua observância, envolvendo-nos durante todo este dia sagrado e partindo quando este chega ao seu fim, alimentando a esperança de que, após mais uma semana de trabalho contínuo, voltará para reanimar-nos e revitalizar-nos.
E, portanto, ao valorizar o Shabat - um dia na qual abstemo-nos de praticar qualquer modificação na natureza - o homem valoriza a si mesmo, ao constatar que existe um dia não dedicado ao trabalho como os outros seis, e sim voltado para ele próprio e D-us.
O descanso deste dia torna possível ao homem conscientizar-se de que “em seis dias fez D-us os céus e a terra” e, com isso, encontrar a centelha divina que existe ao seu redor.
O Shabat é a fortaleza que tem protegido o povo judeu durante gerações; é o refúgio para as nossas angústias; é o conforto espiritual a um mundo tão mergulhado no materialismo; uma proteção que, segundo nossos sábios talmúdicos, nunca desaparecerá de Israel. Este é o motivo do carinho e nobreza que atribuímos a nossa “Shabat Hamalká”- a Rainha Shabat. Este sentimento é expresso de forma maravilhosa quando cantamos o hino “Lechá Dodi” e, na última estrofe, voltamo-nos para a entrada da sinagoga, reverenciando a presença real, em toda sua santidade.
Enfim, o Shabat é o fundamento de nossa fé; é a consagração do tempo, elevando a tarefa realizada nos seis dias anteriores. A luz das velas do Shabat trazem paz às nossas almas. Uma mensagem mais do que propícia para a nossa época.
Santificá-lo é fazer a nossa parte para que a continuidade judaica seja uma realidade e não uma esperança. É cumprir nossa missão como detentores de uma tradição milenar. É dar o exemplo às futuras gerações.
“Mais do que o povo de Israel tem conservado o Shabat, o Shabat tem conservado o povo de Israel” (Achad Há’am)

Dicas práticas para um Shabat em família:

1) Vá à sinagoga na sexta-feira à noite com seus familiares. A experiência da oração em família é a melhor forma de garantir sua continuidade;
2) Ao chegar em casa, esqueça o telefone, a televisão ou o rádio. Esta é uma noite para a família. Para quê atrapalhar a magia desta reunião?
3) Tenha uma mesa preparada com duas velas já acesas, duas chalot e vinho;
4) Discuta algum tema judaico.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

Luach – o calendário judaico


“O catecismo do judeu é seu calendário” (Rabino Samson Raphael Hirsch)



Tal afirmação se deve ao fato de que o calendário judaico é base da vida cultural, religiosa e cívica de nossas comunidades. É impossível desvincular o judeu de seu calendário. Portanto, é importante conhecer seu funcionamento.
Como a economia da sociedade judaica primitiva era essencialmente agrícola, os primeiros calendários refletiam o interesse dos agricultores pelo solo. Em escavações arqueológicas, foram encontrados primitivos calendários que marcavam o ciclo da plantação, como o início da colheita, arado, semeadura, etc. No entanto, segundo a tradição judaica, o calendário tem base na Torá e é lunar (acompanhando as quatro fases lunares) e solar, ao mesmo tempo.
Durante muitos anos, os cálculos eram imprecisos. Na época do Segundo Templo, no Sinédrio (corpo legislativo de 71 anciãos), o início de cada mês era determinado quando duas testemunhas comunicavam-lhes terem avistado a Lua Nova. Os sábios, neste momento, levavam-nos a uma sala especial que tinha na parede uma tabela (Luach) com o desenho de vários formatos da lua. Indagavam-nos sobre qual o formato haviam visto, para não haver dúvidas. Uma vez constatada, o anúncio era despachado por meio de sinais de fogo ou emissários, os quais eram enviados para todos os confins de Israel e Diáspora. Aquele dia era então marcado como Rosh Chodesh – início do mês - muito festejado na Antigüidade. Até hoje mantemos a tradição, realizando um Serviço Religioso especial com leitura da Torá neste dia. Uma vez que tal forma de veiculação da notícia estava sujeita a falhas, ficou estipulado, em determinados meses, dois dias de Rosh Chodesh. Ou seja, nos meses em que há 30 dias, tanto o 30o dia do mês anterior como o 1o do mês seguinte são Rosh Chodesh. Um outra explicação para a variação de dias entre meses está no “ajuste” que deve ser feito de tempos em tempos, para que algumas datas não “caiam” em dias “proibidos”. Por exemplo: Yom Kipur nunca cai na sexta-feira, pois senão seria impossível preparar-se para o Shabat. Purim, por sua vez, nunca cairá no Shabat, para que possamos carregar os presentes comestíveis e entregar dinheiro aos pobres. Este ajuste se dá justamente nos meses “flexíveis”, nos quais a duração pode ser de 29 ou 30 dias.
Por que o frenesi com o início do mês? Pois a Torá estipula várias datas comemorativas e não teríamos como observá-las sem saber quando o mês se inicia.
O calendário como o conhecemos hoje em dia foi institucionalizado por Rabi Hilel filho de Yehudá Hanassi, conhecido com Hilel II, em 358 e.c., sendo que os cálculos foram utilizados para a definição dos anos posteriores. Vale ressaltar que foi muito criticado por vários rabinos que o sucederam, até que foi incrementado e aprovado por Rabi Saadia Gaon, em 840 e.c., estando, desde então, em vigência, sem alterações




Funcionamento do calendário


O mês

O mês é marcado pela volta da lua em torno da Terra, que dura 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundos, seguindo suas fases.
Segundo o costume bíblico, os meses são contados a partir do mês de Nissan. Conhecem-se apenas alguns nomes bíblicos de meses (Aviv e Ziv, na primavera; Bul e Etanim, no outono). Os nomes atuais são de origem babilônica, sendo que o início do calendário religioso se dá em Tishrei.

NOME HEBRAICO NOME BABILÔNIO DURAÇÃO

1. Tishrei Tashrêtu (começo) 30 dias
2. Cheshvan Arakhshamna 29/30 dias
3. Kislev Kislimu 29/30 dias
4. Tevet Tabêtu (inundação) 29 dias
5. Shevat Shabâtu (açoitamento) 30 dias
6. Adar Adaru 29 dias
7. Nissan Nissanu 30 dias
8. Iyar Ayaru (broto) 29 dias
9. Sivan Simânu 30 dias
10.Tamuz Du’ûzu (divindade) 29 dias
11. Av Abu 30 dias
12. Elul Ulúlu (purificação) 29 dias



A semana

A semana tem 7 dias de duração, sendo que somente o Shabat tem nome. Todos os demais são chamados de “primeiro ao Shabat”, “segundo ao Shabat”, etc., para marcar a ansiedade pelo sábado tão sagrado.


O dia

O dia não tem a exata duração de 24 horas. Segundo a Lei, os horários diários são estabelecidos em função das shaot zemaniot – horas temporais. Uma vez que a duração dos dias não é sempre igual (no verão temos dias mais extensos e no inverno, por sua vez, mais curtos) há a necessidade de se estabelecer, para cada dia, um novo cálculo. Para tanto, pega-se do nascer do sol ao pôr do sol e divide-se este intervalo por 12. Por exemplo:






• Nascer do sol 06:13

• Por do sol 18:58

• Subtrai-se 18,58 – 6,13 = 12,45

• Divide-se 12,45/12 = 1,03


Neste caso, teríamos um dia com horas de 1,03 h. Por isso os horários de acendimento das velas de Shabat e seu fim variam de semana para semana, por exemplo. Tal cálculo faz-se necessário em função de vários preceitos, como Serviços Religiosos, serem regidos pelo horário.


O ano

Ano solar = 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos

Ano lunar = 354 dias, 8 horas, 48 minutos e 36 segundos


Existe uma diferença de onze dias entre os calendários. Para que a celebração das Festas agrícolas ocorra na época correta, a mesma é eliminada pelo acréscimo de uma mês completo após Adar (neste caso, teremos Adar 1 e 2) sempre no 3o, 6o, 8o, 11o, 14o, 17o e 19o anos de cada ciclo de 19 anos. Estes anos são chamados Shaná Meubéret – o ano bissexto.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

segunda-feira, 2 de julho de 2007

As leis de 17 de Tamuz e dias seguintes

No dia 17 de Tamuz (3/7):

1.Não é permitido comer ou beber desde o amanhecer até escurecer.
2.Mulheres grávidas ou que estão dando de mamar e outros casos em que há risco de vida estão isentos do jejum.
3.Se o dia do jejum cair no Shabat, o jejum é adiado para domingo.
4.É permitido tomar banho, passar cremes e usar sapatos de couro.
5.A reza do “Aneinu” é acresentada na Amidá de Shacharit e Minchá pelo chazan. O resto das pessoas só a acrescentam em Minchá.
6.“Slichot” e "Avinu Malkeinu" são declamados.
7.Êxodos 32:11, em que os "13 Atributos da Clemência" são mencionados, é lido nas rezas da manhã e da tarde.
8.Isaias 55:6 à 56:8, que discute a renovação dos serviços do Templo, é lida na Haftará do serviço de Minchá.



As Três Semanas


As "Três Semanas" entre o 17 de Tamuz e Tishá Be Av foram, historicamente, dias de infortúnio e calamidade para o povo judeu. Durante este tempo, ambos Primeiro e Segundo Templos foram destruídos, entre outras terríveis tragédias.

Nos Referimos a estes dias como um "período de dificuldades" (bein hametzarim), conforme o verso: "todos os seus opressores a surpreenderam num período de dificuldades". (Lamentações 1:3).

No Shabat, durante as Três Semanas, as Haftarot são tiradas dos capítulos de Isaias e Jeremias que lidam com a destruição de Templo e o exílio do povo judeu.
Durante este período, vários aspectos de luto são observados pela nação inteira. Nós diminuímos as alegrias e celebrações. E, sentindo imensamente o atributo do julgamento Divino (din), evitamos as situações perigosas ou as tarefas arriscadas.

ASPECTOS DO LUTO DURANTE AS TRÊS SEMANAS:

1.Não ocorrem casamentos. (Porém, cerimônias de noivado (que selam um compromisso) são permitidas.)
2.Não escutamos música.
3.Evitamos todas as celebrações públicas -- especialmente aquelas em que há canto, dança e acompanhamento musical.
4.Evitamos fazer viagens de prazer ou alguma outra atividade de entretenimento.
5.Não se corta o cabelo ou faz-se a barba. (As unhas podem ser cortadas até a semana em que cai Tishá Be Av)
6.Nós não dizemos a bênção She-hechianu para uma comida ou
roupa novas, exceto no Shabat.
Fonte: Aish

Saindo do cerco parte I


Amanhã (3/7) iniciamos um período dos mais solenes do ano. Conhecido como Bein Hametsarim - entre os cercos - as três semanas que vão do dia 17 de tamuz ao 9 de av, são marcadas pela tristeza, desconforto, luto e lamentação. Vários são os eventos trágicos ocorridos nestas duas datas, desde a Antigüidade até a História recente, mas, sem dúvida, o mais relevante é a destruição dos dois Templos de Jerusalém (em 586 a.C. e, posteriormente, em 70 d.C.). O Talmud Guitín dedica grande parte do seu quinto capítulo à narração do sofrimento passado pelos habitantes de Jerusalém e à dor do povo com a perda de amado seu santuário. Por isso, desde tempos remotos, judeus do mundo todo jejuam nestes dois dias, sendo o segundo tão extenso quanto Iom Kipur.
Neste artigo divido em duas partes, vamos analisar a trajetória destes dois eventos - cerco e destruição- a partir de uma perspectiva, ao mesmo tempo, religiosa e psicológica, com o objetivo de traçarmos um objetivo: reverter a tragédia em alegria; fazer com que a dor transforme-se em um sorriso. Afinal, nem todas as guerras são travadas dentro de um campo de batalha. Muitas delas estão dentro de nós. E, quando o inimigo é invisível, nossas chances de derrota são maiores.
Iniciamos com o cerco a Jerusalém. Os romanos, imbatíveis em sua força, cercaram a Cidade Santa, rompendo suas muralhas (17 de Tamuz), de tal forma que seus moradores não tinham outra opção a não ser render-se. Mas mesmo a rendição não significava a vida. Os relatos dramáticos mencionados no Talmud mostram como é cruel uma guerra, não importa qual seja a sua motivação. Sempre a vida - bem maior deste mundo - acaba sendo a perdedora.
Neste momento temos uma batalha sendo travada dentro de nós, semelhante àquela de tempos remotos. O inimigo - perda de valores, angústia, sofrimento, preguiça, dentre tantos - aproxima-se de nós, cercando-nos de todos os lados. E quanto mais esperamos, deixando para mais tarde nossa ação e reação, mais ele fecha o cerco, rompendo nossas defesas, a tal ponto de não termos como escapar.
A mística judaica ensina que nós, dentro de nosso corpo, possuimos dois tipos de instintos: um bom e um mal. Em constante disputa pelo poder, ambos “defendem suas teses” como sendo as verdadeiras. Aliás, o mesmo motivo de uma guerra real, na qual o invasor defende a veracidade e legitimidade de sua imposição. E nós, no meio desta briga, acabamos por sentir-nos cercados, indefesos, sem a mínima capacidade de reagir.
Um outro modo de ver uma disputa é analisando-a como um jogo. Muitos de nós jogamos e nem sempre nos damos conta da lição que podemos extrair deste ato. E nossos sábios não perderam a oportunidade de aproveitá-las. Assim dizia o Rebe de Kotzk:
“Existem três regras no jogo de damas, e assim devemos nos comportar durante nossa vida: a) é permitido andar somente para a frente; b) é preciso avançar casa por casa, passo a passo; c) se você chegar ao fim, estará livre para ir aonde quiser.”
O inimigo parece imbatível e sem sua iniciativa, vontade e disposição, com certeza sempre será. Mas o problemas, quando a parecem e parecem cercar-nos, não são o fim da linha. O povo de Jerusalém não teve outra opção, mas nós temos. Nosso adversário pode ser vencido. Basta apenas termos a vontade de vencer. E, vencendo, estaremos livres para ir aonde quisermos.


Eis os eventos que aconteceram no dia 17 de Tamuz, na História Judaica:

• Moisés quebrou as Tábuas da Lei;
• foi suspensa a oferenda diária no Primeiro Templo;
• foram rompidas as muralhas de Jerusalém, na época do Segundo Templo;
• Apóstomos, um soldado romano, queimou a Torá;
• um ídolo foi colocado no Templo.

Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

A metafísica dos sonhos no judaísmo - Parte Final

Para concluir, o que falar sobre a tão intrigante revelação de José no Egito? O padeiro, o copeiro, os sonhos do Faraó...
Existe um grande diferença entre os sonhos e o processo normal de vigília. Enquanto os pensamentos de alguém desperto consistem principalmente de discurso mental, ou seja, a pessoa pensa consigo mesma em termos de palavras e sentenças, o sonhos consistem quase que completamente de figuras e imagens. É, portanto, óbvio, que quando sobrevem o sonho, a mente começa a transformar, ou melhor dizendo, traduzir, o pensamento verbal em pensamento visionário. Isto é chamado, segundo Maimônides, o grande rabino e cientista do séc. XII, de Coach Hamedamé, ou a faculdade imaginativa. Já que durante o sono as letras e as palavras que consistem de um pensamento único, podem vir a se misturar com letras de outros pensamentos - como no exemplo dos slides - isto pode levar à confecção de palavras e idéias sem equivalência real no estado de vigília.. Conseqüentemente, estes pensamentos verbais , quando transformados em figuras, assumem exatamente a mesma forma. Seria algo como um dicionário mental. Assim, somos capazes de julgar fenômenos muitas vezes contraditórios e impossíveis por meio das letras dos diferentes objetos que se mesclam para conceber um novo equivalente visual correspondente. Em resumo, podemos dizer que o segredo da interpretação de um sonho é decifrar a nova codificação das letras mentais transformadas. Através deste processo, pode-se chegar a entender em que consistiam os pensamentos originais. Estudando a maneira pela qual a mente sintetizou estas imagens aparentemente não relacionadas, pode-se iluminar as trilhas da mente, discernindo o que associa internamente dois pensamentos que racionalmente são desprovidos de qualquer conexão.
De acordo com o comentarista bíblico Abravanel, este era o método de interpretação utilizado pelos feiticeiros do faraó em sua tentativa de desvendar seu misterioso sonho das vacas magras e das vacas gordas. Eles achavam que o sonho era apenas uma alegoria ou analogia, de um conceito oculto no íntimo e, examinando as figuras finais, poderiam regredir, por associação, à raiz inicial do pensamento. Isto teria uma grande utilidade, caso o pensamento original tivesse partido do próprio faraó. Como o sonho era, sem dúvida, clarividente, eles jamais poderiam chegar à imagem original, uma vez que a raiz não fazia parte de sua memória. E, neste caso, somente alguém com espírito elevado e em conexão com o Grande Pensador, poderia chegar à sua revelação. Tal nível só é adquirido por meio de dom divino ou por uma espiritualização do ser, que faz com que o homem possa enxergar, com maior nitidez, as centelhas divinas que se encontram presentes entre nós. Vamos traçar uma analogia para a passagem entre Faraó e José, que vai ajudar-nos a compreender melhor toda a situação. Imaginem um vidro translúcido. Embora você não tenha contato físico com o que ocorre do outro lado, você pode ver nitidamente, através dele, tudo o que se passa. Agora, tenham em mente outro vidro, desta vez fosco. A imagem e a luz continuam a atravessar a barreira, porém nós, do lado de cá, não conseguimos interpretar logicamente o que são. Esta é a grande diferença entre os profetas e nós, seres humanos comuns. Enquanto para nós, sonhos e situações aparentemente sem explicação são como silhuetas sem forma, para eles a grande barreira existente entre a essência do Infinito e as limitações do finito não impede que a revelação da vontade divina seja captada.
Ao longo da História Universal encontramos várias destas personagens imbuídas de uma visão superior. Talvez se conseguirmos, algum dia, desprender-nos do materialismo que nos cerca, consigamos ver o que eles viram.


Bibliografia

BOTEACH, Samuel Awakening to the world of dreams. New York, Bash
Publications, 1991

HOFFMAN, Edward The way of splendor – Jewish mysticism and modern
Psychology. Londres, Shambala, 1981

TALMUD Berachot cap 9 pgs 55-58 (versão original em hebraico-aramaico)

ZOHAR volume 2 pgs 164-260 (versão original em hebraico-aramaico)


Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

domingo, 1 de julho de 2007

FIERJ TV 1.244 - Comunidade na TV - Jerusalem

História dos nossos mestres - Matemática rabínica


Três homens se associaram e compraram dezessete cavalos por dois mil e setecentos rublos. Um pagou metade do dinheiro, outro um terço e o terceiro um nono do total. Porém, quando chegou a ocasião de dividi-los entre si, não o conseguiram e se dirigiram ao rabino, expondo-lhe a situação.
- Deixem-me pensar. Voltem a me procurar com seus cavalos pela manhã.
À hora marcada, os três sócios trouxeram os cavalos ao rabino que, para sua surpresa, estava montado em seu próprio animal. Subitamente, aproximou-o dos demais e disse:
- Meus filhos, aqui estão dezoito cavalos. Você, que pagou a metade, levará nove cavalos. Você, que entrou com um terço, levará seis. Finalmente você, que pagou um nono, ficará com dois. Assim ficam distribuidos os dezessete cavalos.
E, em poucos instantes, foi-se embora o rabino, levando consigo seu cavalo de volta à estrebaria.

Como sentou-se solitária...


... a cidade que vivia cheia de povo! Com este suspiro, Jeremias inicia suas Lamentações, lidas anualmente no dia de Tishá Beáv. Testemunha da queda da Cidade Santa, presenciou a mais triste das visões: Jerusalém fora reduzida a pó; o Templo ardia em chamas; os cadáveres e pedras formavam o horrendo cenário de um cemitério a céu aberto; sobreviventes banidos e condenados ao exílio. Na minha opinião, o profeta poderia ter melhor descrito seu testemunho com palavras mais fortes como “devastada”, “desolada”, “destruída” ou “arrasada” e sentiríamos mais intensamente o ocorrido. No entanto, optou por descrevê-la como “solitária”. Por quê? Talvez a solidão seja a maior maldição que tenha recaído sobre Jerusalém; e a pior ao ser humano.
Conta-se a história sobre uma pessoa que havia sido muito ativa na comunidade durante décadas. Assíduo freqüentador da sinagoga, não perdia sequer uma reza. Amigos? Todos os conheciam e com todos se dava. Nunca recusou-se a contribuir e sua casa estava sempre aberta a visitantes. Entretanto, com o passar do tempo começou a isolar-se. Achou que já era hora de a juventude assumir a liderança; a sinagoga continuaria seus Serviços sem sua presença; os amigos já não mais tinham importância. E assim, o homem passou a viver uma vida solitária.
Certo dia do tenebroso inverno russo, o rabino, durante o Serviço Religioso, interrompeu suas orações e saiu da sinagoga. Os presentes ficaram atordoados. “O que estará acontecendo” – pensavam. Seguindo de longe, acompanharam o rabino e viram-no entrar na casa daquele homem. Espremendo-se por entre as frestas das janelas, presenciaram uma cena interessante: o judeu estava confortavelmente sentado em seu sofá, coberto por um lindo manto, diante de uma radiante lareira. O rabino não pronunciou sequer uma palavra. Dirigindo-se à lareira com uma barra de ferro, afastou um pequeno pedaço de carvão, deixando-o de lado. Longe do fogo da união, ele imediatamente se apagou. O rabino desejou-lhe um bom dia e voltou à sinagoga. Desde aquele dia, o homem não faltou mais à sinagoga, voltou às atividades comunitárias e novamente podia ser visto com seus amigos.
“E disse o Eterno D-us: ‘não é bom que esteja o homem só’” (Gênesis 2:18). A solidão e o isolamento são veementemente condenados pela Torá. Entretanto, o que vemos hoje é justamente o contrário, principalmente aqui no Brasil. Segundo o levantamento mais recente do IBGE, 4 milhões de brasileiros moram sozinhos, o que representa 9% dos domicílios do país. A quantidade é pequena se comparada a outros países com Inglaterra e França, mas viver só é uma tendência mundial. Quais seriam os motivos para isso?
Claro, existem os óbvios: um caso de divórcio, compromissos profissionais, etc. Mas, prefiro apontar um problema ainda maior: o progresso material, científico e tecnológico que vivenciamos induz-nos a acreditar na falsa imagem de que a auto-realização se dá mais rápida e energicamente através do individualismo. Sim, tornamo-nos individualistas. Até mesmo acompanhados, seja em nossos núcleos familiares ou sociais, a relação reter versus ceder não é muito clara. Gostamos de ser como o oceano que se agiganta por receber as águas dos rios mas não como a terra que empobrece por dar e gerar vida. Não mais sabemos abdicar para ganhar; dividir para multiplicar. Preocupamo-nos em incutir nas frias máquinas uma inteligência humana ao mesmo tempo que injetamos em nossas veias a frieza mecânica. Sim, nossas relações passaram de humanas para mecânicas. Habitamos metrópoles ou megalópoles; saímos às ruas e encontramo-nos com milhões de pessoas, mas sentimo-no sós. Sós como lamentava o Rai David: “sou semelhante ao pelicano no deserto; chego a ser como a coruja das ruínas... tornei-me como um passarinho solitário no telhado” (Salmos 102:6-7).
A solidão pode levar a que a pessoa forme uma imagem negativa de si própria e julgue que ninguém a aprecia. Segundo estudos médicos, a falta de um parceiro contribui para debilitar a saúde, além das estatísticas que confirmam que solteiros e divorciados têm mais possibilidade de cometer suicídio e são vítimas mais freqüentes de depressão, diabetes, câncer de fígado e pulmão. Enfim, a brasa se apaga e o carvão perde sua vida.
Será que não estamos nos sentindo únicos no mundo? Será que não perdemos os horizontes de nossas relações, principalmente entre os jovens, os quais não vêem a luz no fim do túnel de uma relação estável e duradoura?
A solidão poder ser uma ação, opção, condição. Ação quando somos compelidos a uma vida solitária por motivos externos, como trabalho. Opção, quando decidimos aventurar-nos ou passar por uma nova experiência. Entretanto, em ambos os casos, o verbo empregado é “morar” só. É o ideal? Com certeza não, mas nestes as relações não são interrompidas ou abruptamente cortadas. O veneno reside na solidão enquanto condição: a pessoa se sente só, a pessoa é só. O verbo é “ser”. Neste caso, mesmo dentro do convívio social, mesmo com a casa cheia, isolamo-nos e fechamo-nos ao mundo.
Amigo, a solidão é a maior maldição, por isso Jeremias a utilizou para descrever a destruição. Pois ela nos destrói por dentro. Pedras podem ser reerguidas, mas corações dilacerados exigem um esforço infinitamente maior. Busquemos a união. Reacendamos nossas lareiras e aqueçamo-nos com o calor de nossas almas. Pois não é bom que o homem viva só...


Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

A metafísica dos sonhos no judaísmo - Parte IV

O elemento chave na interpretação onírica é entender cada aspecto individual do sonho. Muito antes das teorias freudianas, a mística judaica já indicava que nossas mentes, durante o sono, operam por meio de símbolos. Embora não tenha confinado os sonhos para satisfazer os desejos de alguém, sejam eles sexuais, segundo Freud; de poder, conforme dizia Adler; ou de inspiração cósmica e transcendental, de acordo com Carl Jung., ela concorda que muitas de sua facetas realmente representam pensamentos abstratos e sentimentos ocultos.
Por exemplo: o Zohar (v 2, pg 164) afirma que todas as cores vistas em um sonho são um bom presságio, com exceção do azul. Hoje, a psicologia moderna já demonstrou que as cores estão intimamente conectadas às nossas mais profundas emoções. Pessoas que normalmente sonham “em cores” são aquelas que geralmente estão mais em contato com seu mundo interior. Além disse, o Zohar assume que cores fortes e escuras estão associadas com sentimentos de infelicidade pessoal. É interessante notar que, em inglês existe o jargão popular “blue Mondays”. Em outra oportunidade, ele diz que “um rio visto no sonho é presságio de paz”. O que é um rio? algo belo, tranqüilo, que transmite harmonia e felicidade. Sonhar, por exemplo, com um rolo das Sagradas Escrituras em chamas, o final do Dia do Perdão judaico ou com os dentes caindo. Segundo José Caro, no século XVI, estes também poderiam ser incluídos como maus presságios, ao lado das cores escuras. Por quê? Basta analisarmos cada aspecto em separado: as Sagradas Escrituras representam a harmonia entre o homem e Deus; queimando, sugerem algum conflito emocional a ser resolvido. O Dia do Perdão é aquele no qual jejuamos por 25 horas, arrependendo-nos de qualquer má atitude cometida no decorrer do ano; sonhar com ele, indica algum tipo de sentimento de culpa. Com relação aos dentes, eles representam a força; caindo, parte de nossa potência vital está se esvaindo, causando-nos temor. É interessante notar que Freud, quase três séculos depois, utilizou este mesmo exemplo aplicado à potência sexual do indivíduo. Ao mesmo tempo, somos advertidos a levar a sério sonhos com doença, morte e destruição, não como uma visão profética do que está por vir, mas como um alarme interno de que algo esteja errado dentro de nós.
Estes são alguns dos inúmeros exemplos que podemos dar com base em nossos textos. Vamos agora tentar apresentá-los de uma forma um pouco mais real. Lembram-se sobre o que falamos a respeito de nossa memória ser como uma chapa de vidro? Pois bem, nossa mente está registrando esta exata imagem que vocês estão vendo neste momento. Nós aqui, falando e vocês aí, ouvindo. É muito provável que vocês sonhem hoje à noite com esta situação, afinal ela está sendo muito bem fixada em suas memórias. Suponhamos que esta mesa-redonda lhes lembre a respeito de uma sala de aula da faculdade. Então vocês veriam seus professores e toda aquela situação. Voltemos ao exemplo das chapas ou slides. O que acontece se colocarmos uma encima da outra? As imagens ficarão sobrepostas. Imaginemos que a sala de aula nos lembre um amigo de classe que, infelizmente, faleceu. Nossa mente colocaria este slide encima dos outros dois. Suponhamos então, que seu organismo quer lhe dar uma mensagem de que você está triste. Qual seria o resultado desta sobreposição de imagens? Vocês estariam provavelmente vendo, em seu sonho, seu amigo falecido dando uma palestra na PUC ao lado de seu professor, enquanto cores escuras predominam no ambiente.
Assim, por meio de métodos associativos compreensíveis ou não, a mente vai montando a imagem, dentro de nossas mentes. Uma visão destas seria assustadora, não? Por isso, é importante analisarmos cada aspecto, cada elemento do sonho em separado para chegarmos a um interpretação lógica e coerente. Dependendo da visão, como nosso exemplo, poderemos dar maior importância ao que não tem valor e descartar aquilo que realmente interessa. Nossos sábios talmúdicos (Brachot 57a) diziam que um sonho é igual a 1/60 de uma profecia. A profecia, no caso, é a mensagem biológica a nós transmitida pelo nosso corpo. Mas advertem-nos (id. 55b): “assim como é impossível encontrar espigas de milho sem palha, assim também não existem sonhos sem coisas vãs”. A fantasia criada por este fantástico computador chamado cérebro pode fazer-nos acreditar na veracidade dos inúteis 59/60 e desprezar a pequena, mas essencial parte do sonho. Apesar dos avisos, nossos mestres sabiam que a crendice popular cresceria cada vez mais, principalmente quando da estadia dos judeus entre os persas e babilônicos, povos que davam uma enorme importância aos sonhos. Para influenciar psicologicamente o povo, instituíram uma cerimônia chamada Hatavat Chalom - a “melhora do sonho”- na qual aquele que teve um sonho ruim apresenta-se diante de três amigos que, por meio de fórmulas rabínicas e combinações de Salmos, simbolicamente “revertem” o mau desígnio sonhado, aliviando aquela mente perturbada.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Shabat Shalom a todos!


A Vida Ou A Morte Por 15 Segundos

Contagem regressiva: 15 segundos para fugir de um míssil. Que foguete? Aqueles que a mídia solenemente ignora que existam, a não ser quando Israel reage e vai atrás dos seus lançadores. O novo vídeo do Honest Reporting mostra os estragos que este tipo de projétil causa nas propriedades de israelenses ( para não falar de feridos e mortos nestes ataques), e a (ir)responsabilidade da mídia em não divulgar os seus verdadeiros danos e riscos


Cliquem aqui: http://www.honestreporting.com/a/15seconds.asp



DIVULGUEM!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Israel, uma reflexão


“Esta nação é comparada ao pó e as estrelas: quando afunda, cai até o pó; mas quando sobe, sobe até as estrelas do céu”
(Talmud Meguilá 16a)




Embora tal afirmação talmúdica recaia sobre o povo de Israel, é impossível desvinculá-lo de sua terra natal, sua Terra Prometida. Não se pode estudar a História de nossa sociedade sem conectá-la à suas raízes territoriais. Desde os tempos do primeiro Patriarca, Abrãao, o povo judeu vê na Terra de Israel seu berço, seu lar, sua pátria.
O Talmud nos remonta, nesta passagem, a períodos de glória e tragédia. Habitamos e fomos expulsos daquele pedaço de chão inúmeras vezes. O destino afastou-nos de lá e espalhou-nos mundo afora. Porém, mesmo no mais longínquo confim do planeta, o judeu sempre desejou reaver sua nação. Hinos e cânticos de louvor eram entoados em devoção a Sion – a Terra de Israel. Muito antes de a palavra sionismo ser conhecida, este sentimento já se fazia presente na esfera sócio-religiosa de nosso povo. Ser judeu é ser sionista e vice-versa; é impossível ser um sem ser o outro.
Mas o que faz deste pequeno espaço geográfico um alvo de milenar e constante atenção?
É lá que começou nossa História. É lá que se encontra, a cada passo, a cada esquina, a cada cidade, uma memória viva de quem fomos e somos. É lá que reside todo nosso elo com nossos antepassados. É lá que estão os túmulos dos Patriarcas e Matriarcas. Por lá passaram nossos Profetas. Foi lá que hábeis monarcas expandiram seu território. Foi lá que tivemos, por quase 1000 anos, um majestoso templo. Enfim, é lá que está nossa identidade: somos judeus porque existe Israel e Israel existe porque somos judeus.
Tal sentimento de amor e devoção encontra-se belamente expressado no livro dos Salmos:

Às margens dos rios da Babilônia nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sion (137:1)

Um cântico de ascensão, quando o Eterno fez retornar o exílio de Sion, estávamos como quem sonha (126:1)

Outra importante passagem a ser destacada é o célebre hino do poeta e filósofo espanhol Yehudá Halevi (1085-1140):

Meu coração está no leste
E eu no fim do oeste
Como poderei saborear o que como?
Como a comida poderá ser doce para mim?

No entanto, este sentimento religioso não se traduzia em ações política, até que um jornalista e escritor, Theodor Herzl (1860-1904), não podendo ignorar o crescente anti-semitismo, escreveu em seu diário, após o conhecido caso Dreyfus:

Há dias e semanas que a idéia ocupa minha alma ... me acompanha para onde quer que vá, paira sobre minhas conversas comuns, me confunde e me embriaga. A solução da questão dos judeus está em minhas mãos. Não é uma solução, mas a única.

Foi ele mesmo que, em 1896, ao publicar “O Estado Judeu”, deu-nos a solução:

A questão judaica é uma questão nacional e para solucioná-la devemos, em primeiro lugar, fazer dela uma questão política mundial que exija uma solução do Conselho das Nações. Somos uma nação, uma nação só. (...) ... os judeus que desejam e terão seu Estado. Temos que, finalmente, viver livremente em nossa terra.

A visão se Herzl se concretizou. Com o Estado de Israel, inicia-se uma nova fase na tradição judaica, chamada atchalta degueulá – início da redenção; a cristalização de todas as profecias bíblicas e anseios de nossos antepassados. Agora temos de volta nossa amada terra e, principalmente, uma defesa política.
Israel desempenha um papel vital e central na vida da comunidade judaica mundial, em todo os aspectos. Apoiar Israel e promover um maior intercâmbio entre a Terra Santa e a Diáspora é lutar com a melhor das armas pela continuidade de nosso povo. Neste sentido, devemos estar atentos ao que lá ocorre; interessar-se, informar-se e buscar meios de ajudar o Estado, sempre ressaltando o caráter democrático que o rege. Devemos lutar, também, pelo pleno reconhecimento de nossa ideologia por parte das demais correntes, de forma a enfatizar o aspecto pluralista do judaísmo.
Somente assim, tornaremos Israel em or lagoym – uma luz para as nações -, através da inserção dos conceitos ético-sociais bíblicos, talmúdicos e filosóficos no cenário cotidiano de nossa Terra Sagrada. É a nossa luta por paz, amor entre irmãos, harmonia, etc.


Questões para reflexão:


1) Até que ponto o que ocorre em Israel afeta sua vida?
2) Como você acha possível estabelecer uma maior intercâmbio entre a sua comunidade e Israel?
3) Você fala hebraico? Se não, qual sua importância para você? Será o hebraico vital para o mundo judaico contemporâneo?

Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

A metafísica dos sonhos no judaísmo - Parte III

Nossa memória é como uma chapa de vidro que registra instantânea e constantemente a impressão de uma imagem projetada sobre ela pela lente de uma câmera. Contanto que o instrumento esteja funcionando corretamente e sua imagem nitidamente focada, a chapa de vidro proporcionará retratos claros e precisos sempre que lhe for exigido. Mas, supondo o contrário, que a memória seja vaga para começar ou que tenha sido captada em condições de iluminação desfavoráveis ou de distância longa demais: conseguiríamos então, da chapa de vidro, apenas uma silhueta distinta, uma série de sombras ambíguas e contornos indefinidos. Agora, imaginemos a quantidade de “chapas” impressas que temos em nossas mentes, muitas das quais nem sequer lembramos ou temos conhecimento. Estas são as experiências do cotidiano – impenetráveis profundezas de imagens acumuladas em nossa memória – que são responsáveis por toda a fantasia dos sonhos. Parte da memória destes fatos é descartada no banco de dados do cérebro, mas algumas lembranças passam para os circuitos químicos responsáveis pelos sonhos. Durante o estágio REM “rapid eyes movement”- a fase do sono paradoxal, - impulsos elétricos são enviados do tronco cerebral para o córtex visual, o que produz o sonho, associado às experiências do dia ou aquela já vividas, armazenadas em nosso “winchester” biológico.
No entanto, para os místicos, os sonhos devem ser levados à sério. Uma vez que revelam nossas emoções primárias, podem prover-nos de caminhos bem definidos às nossas mais ocultas profundezas. Exortam-nos a confrontar nossos sonhos honestamente e não apenas ignorá-los ou descartá-los como irrelevantes. Ainda mais enfaticamente, o Zohar afirma que “um sonho que não é lembrado nem deveria ter sido sonhado e, portanto, um sonho esquecido nunca se cumpre”(vol. 2 pg. 258).
Para desempenhar esta tarefa de interpretação é necessária uma técnica específica aos olhos destes mestres, um conjunto de regras bem definidas, invioláveis e que não podem variar de uma pessoa para outra. A Cabalá explica que, se algum dos elementos do sonho for mal interpretado, todo seu significado ficará obscuro. Apesar de ensinar-nos que sim são portadores de mensagens importantes para a pessoa, eles nos previnem sobre com quem compartilhar nossos sonhos. Avisam-nos a não discuti-los com qualquer pessoa. O Zohar é mais firme neste aviso, dizendo que a pessoa não deva revelá-lo a não ser a seu amigo mais próximo. Tudo pelo medo de que o ouvinte perverta a importância do sonho e seu conseqüente significado. A preocupação com o charlatanismo, ao contrário do que aparenta, não é uma coisa moderna. E mais, parece que a interpretação dos sonhos sempre foi um bom negócio. O Talmud (ibid. 56a) relata sobre uma pessoa chamada Bar Hedia que oferecia seus serviços para ilustres curiosos. Isto, porém, de uma forma bem peculiar: quanto melhor o pagamento mais favorável a revelação do sonho e vice-versa. Mas vocês provavelmente "nunca" ouviram falar sobre isso.
Como se dá a decodificação dos sonhos segundo a mística judaica?
Todo e qualquer sonho humano pode ser decodificado de um mesmo sistema lógico-interpretativo. Embora encontremos passagens, principalmente bíblicas, de sonhos enigmáticos, perturbadores, ou até mesmo inspirados por forças superiores, isto não significa que não sejam passíveis de elucidação. A normativa judaica assume que todos os sonhos vão de acordo com sua interpretação. Talvez a mais famosa e intrigante seja a passagem de José no Egito e, acredito, muitos de vocês estão curiosos para saber a posição judaica com relação a ele. É importante novamente ressaltar que o judaísmo faz uma clara distinção entre sonhos comuns e aqueles de conotação clarividente, procurando sempre, na medida do possível, interpretá-los cientificamente.. Portanto, vamos deixar este caso específico para o final de nossa exposição.
(continua)