Até que ponto temos o direito de optar entre viver ou morrer? O Senado holandês abriu, na última terça-feira, um precedente para o debate. Por 46 votos a favor e 28 contra, uma lei que legaliza a eutanásia foi aprovada, tornando a Holanda o único país a permitir a prática. A medida entrará em vigor após a assinatura da rainha Beatrix e a divulgação de sua regulamentação, o que deve ocorrer dentro de duas semanas. Dentre as especificações da lei, cabe ressaltar algumas regras:
O paciente precisa pedi-la a seu médico, voluntariamente, repetidas vezes;
Deve haver uma relação de grande proximidade entre os dois a fim de se impedir o "turismo da morte";
O médico deve considerar insuportável e irremediável o sofrimento enfrentado pelo doente;
Uma segunda opinião médica é necessária;
Após a prática segundo "um procedimento médico apropriado", conforme preconizado pelo Ministério da Justiça, deve-se informar a autoridade médico-legista municipal.
Todos sabemos as causas que levam à eutanásia: intensa agonia e total perda de esperança na cura. A provação é intensa e, às vezes, preferimos deixar de viver a passar por ela. A dor permeia os poros daqueles que sofrem fisicamente e daqueles que, impossibilitados de qualquer ação, assistem ao horrendo espetáculo de aflição. Uma lei como esta tenciona, sem dúvida, garantir a dignidade do paciente. Entretanto, estariam estas regras em conformidade com a Lei Judaica?
A vida humana é preciosa e sua preservação tem precedência sobre qualquer outra consideração. Isso inclui a obrigação de visitar o enfermo e a permissão de violar o Shabat para ajudar uma pessoa em risco de vida (Código de Leis, Shulchan Aruch, O.H. 328:2). A importância da vida é ressaltada na Torá: "e escolherás a vida!" (Deuteronômio 30:19) e enfatizada no Talmud: "aquele que salva uma vida é considerado como se salvasse todo o universo" (Sanhedrin 37a). Ao mesmo tempo, todo e qualquer ato contra a vida humana é visto como uma séria violação à santidade de D'us, de tal modo que qualquer incisão feita num moribundo (gosses) e que possa acarretar em sua morte, é considerada pela Lei como homicídio (Maimônides, Leis de Luto 4:5). Partindo-se da premissa judaica de que "D'us deu, D'us tirou", como mencionado no Livro de Jó, somente a Ele cabe estipular o fim de nossa existência terrena. Neste aspecto incluem-se o suicídio, certos tipos de aborto e a eutanásia, ato veementemente condenados. O Comitê para a Lei Judaica da Rabbinical Assembly, entidade que reúne as maiores autoridades rabínicas conservadoras, em concordância com a opinião ortodoxa, declarou, em 1994, que "a eutanásia é incompatível com a Lei Judaica e proibida".
Entretanto, em casos extremos, pode-se recorrer à eutanásia "passiva". Por exemplo: um doente ligado à aparelhos. Estes, às vezes, podem ser desligados para que o enfermo venha a falecer de causas naturais, o que não seria considerado assassinato.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná
Misheberach Lechaialei Tzahal
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
O segredo da sobrevivência judaica
Existe algum segredo para a sobrevivência judaica?
Dentre as várias respostas que podemos dar a esta pergunta, uma se encontra na Parashá desta semana, Shoftim (juízes): “quando te aproximares de uma cidade para guerrear contra ela, oferecer-lhe-ás a paz” (Deuteronômio 20:10). Em outras palavras, o povo foi ordenado a lutar, mas somente após todas as tentativas de paz terem-se findado.
A História Judaica não é marcada por grandes conquistas territoriais. E talvez aí resida um dos ingredientes fundamentais de nossa existência: o povo judeu é, por natureza, pacifista. Temos como bandeira principal a palavra Shalom, paz. Cantamos, rezamos e nos cumprimentamos com este singular verbete. O que poucos sabem é que Shalom também é, de acordo com a tradição, um dos nomes de D-us. Grandes impérios se levantaram, demonstrando força e poder, impondo suas culturas às nações subjugadas e estendendo territórios além de suas fronteiras. A guerra era o sinônimo de virtude. Entretanto, essas potências desapareceram, passando a existir apenas como mais uma matéria escolar.Para o judeu, a coragem e a bravura são demonstradas pela sua capacidade de promover e incentivar a paz. Como disse o profeta: “não pela força nem pelo poder, mas pelo espírito” (Zacarias 4:6). Nossa maior arma é a convicção no valor do judaísmo.
Dentre as várias respostas que podemos dar a esta pergunta, uma se encontra na Parashá desta semana, Shoftim (juízes): “quando te aproximares de uma cidade para guerrear contra ela, oferecer-lhe-ás a paz” (Deuteronômio 20:10). Em outras palavras, o povo foi ordenado a lutar, mas somente após todas as tentativas de paz terem-se findado.
A História Judaica não é marcada por grandes conquistas territoriais. E talvez aí resida um dos ingredientes fundamentais de nossa existência: o povo judeu é, por natureza, pacifista. Temos como bandeira principal a palavra Shalom, paz. Cantamos, rezamos e nos cumprimentamos com este singular verbete. O que poucos sabem é que Shalom também é, de acordo com a tradição, um dos nomes de D-us. Grandes impérios se levantaram, demonstrando força e poder, impondo suas culturas às nações subjugadas e estendendo territórios além de suas fronteiras. A guerra era o sinônimo de virtude. Entretanto, essas potências desapareceram, passando a existir apenas como mais uma matéria escolar.Para o judeu, a coragem e a bravura são demonstradas pela sua capacidade de promover e incentivar a paz. Como disse o profeta: “não pela força nem pelo poder, mas pelo espírito” (Zacarias 4:6). Nossa maior arma é a convicção no valor do judaísmo.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná
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