Bruchim Habaim - Sejam Bem Vindos à NetSinagoga

Estudos, notícias, variedades, downloads e tudo o que você queria sobre o judaísmo e o mundo judaico num só lugar!

Misheberach Lechaialei Tzahal

Misheberach Lechaialei Tzahal
Prece pelos Soldados de Israel - Aquele que abençoou nossos pais Avraham, Itschak e Yaakov, abençoará os soldados das Forças de Defesa de Israel, que guardam a nossa terra e as cidades de nosso D-us (...) O Santo, bendito seja Ele, guardará e livrará os nossos soldados de toda angústia e aperto, e de toda ocorrência e enfermidade, e mandará bênção e sucesso em todos os seus atos (...) e digamos AMEN. (que os méritos das preces e estudos aqui realizados sejam revertidos como bênçãos a Alisha bat Devora)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Guemilut Chassadim


“Sobre três pilares o mundo se sustenta: a Lei, o trabalho e atos de bondade”
(Ética dos Pais 1,2)





Chassadim é o plural de chessed. Guemilut é a prática, o ato. Em outras palavras, a prática de vários “chessed’s”. Mas o que vem a ser chessed?
Freqüentemente encontramos, nas traduções da Torá, as palavras piedade ou misericórdia. Porém, qualquer tradução interfere no conceito original, modificando-o. Chessed é chessed, não há o que discutir. Cabe citar Aron Barth:

Maimônides entendeu o termo muito bem e explicou que chessed leva mesmo ao “excesso”, especialmente de fazer o bem a alguém que não tem o direito de recebê-lo (Guia dos Perplexos 3, 53). Qual é a qualidade que leva a isso? É a misericórdia? Não; isso exprime muito menos do que o que se encontra nos numerosos versículos que citaremos. Piedade, assim como misericórdia, podem ser, em certos casos, o resultado de chessed, o resultado do sentimento expresso na palavra; mas chessed mesmo é mais do que isso. Chessed significa amor. Não é o amor entre noiva e noivo, pais e filhos; isto, em geral, é indicado pela palavra ahava. (...)

É importante entender que quando Maimônides diz “não tem direito” não significa “não merece”. O que o sábio quis dizer é “fazer bem a uma pessoa que não fez nada para merecê-lo”. Ou seja, nada de recompensas ou méritos. Apenas o bem por si só. Tal amor pode ser melhor entendido através da explicação do próprio Maimônides sobre o versículo “... e amarás a teu semelhante como a ti mesmo” (Levítico 19:18):

É o preceito com o qual fomos ordenados a amarmo-nos mutuamente tal qual nos amamos; que meu amor e compaixão por meu semelhante seja como meu amor e compaixão próprios; seja por seu dinheiro, seu corpo, tudo que possui ou deseja. Tudo o que quero para mim, hei de querer para ele identicamente e tudo o que não quiser nem para meus amigos, o mesmo desejarei para ele. (Sefer Hamitzvot 206)

Note que Maimônides não estipula quem é o semelhante ou qual seu grau de proximidade para conosco. Tal amor, portanto, é incondicional. Amor pelo simples motivo de amar.

Porém, surge outra questão: como expressar tal amor? Maimônides dá a resposta:

São preceitos positivos, ensinados por nossos sábios: visitar um enfermo, consolar os enlutados, ajudar uma jovem humilde a casar-se, acompanhar as visitas, ocupar-se com todas as necessidades de um funeral, bem como alegrar os noivos no dia de seu casamento. Estes são atos de Chessed que se deve executar em pessoa e que não tem limitações. (Mishnê Torá, Leis do Enlutado 14,1)

No caso de um funeral, tal amor é considerado chessed shel emet, o verdadeiro chessed, uma vez que, por mais que esperemos, será impossível uma retribuição.

Uma importante ressalva precisa ser feita, para não confundir termos. Vimos sobre a Tsedaká, que é a prática da justiça social. Podemos confundir-nos, acreditando que tanto ela como Guemilut Chassadim implicam numa mesma conduta:

Ensinam nossos mestres: Guemilut Chassadim é superior à Tsedaká de três modos:

1) Tsedaká envolve apenas dinheiro. Guemilut Chassadim pode envolver tanto dinheiro quanto a pessoa;
2) Tsedaká pode ser dada apenas ao pobres. Guemilut Chassadim pode ser feito a pobres e ricos;
3) Tsedaká pode ser dada apenas aos vivos. Guemilut Chassadim pode ser feito a vivos ou mortos. (Talmud Sucá 49b)

Vários exemplos de Guemilut Chassadim podem ser encontrados em nossa literatura. A Torá começa e termina com Guemilut Chassadim, por exemplo. Em Gênesis 3:21 lemos que Deus, antes de expulsar Adão e Eva do Jardim do Éden, “fez roupas de pele para eles e os cobriu”. Já no final, tratando da morte de Moisés, o Todo-Poderoso o enterrou no vale (Deuteronômio 34:7).
Atualmente, encontramos Guemilut Chassadim sob várias formas: ocupar-se com um funeral - costurando os tachrichin (mortalha) ou apenas acompanhando-o -, costurando roupas para pobres, visitar doentes, consolar enlutados, emprestar dinheiro, ajudar nos preparativos de um casamento, etc. Com relação a este último, nossas comunidades irmãs ortodoxas costumam ter um departamento especializado, chamado Hachnassat Calá – “ajudar uma noiva a ‘entrar’”. Elas também costumam ter um departamento exclusivo para a difusão e prática de Guemilut Chassadim, chamado


GUEMACH




que são as inicias de Guemilut Chassadim. Neste contexto, o voluntariado é imprescindível para o cumprimento desta importante Mitzvá. É na figura do voluntário – askan, em hebraico - que é sintetizada toda a essência deste preceito.

Para melhor entendermos a conexão e as diferenças entre Tsedaká e Guemilut Chassadim, basta refletirmos sobre a seguinte história:

Rabi Levi Itschak, rabino-chefe da cidade de Berditchev, havia feito um acordo com os líderes comunitários de que só interromperia seus sagrados estudos caso surgisse alguma novidade. Certa vez, ele foi chamado. Um acirrada discussão tomava conta da sala de reuniões. O motivo: alguém havia tido a “grande” idéia de colocar uma caixa de caridade na porta da sinagoga. Havia, inclusive, uma explicação: os pobres não precisariam mais pedir de porta em porta. As pessoas poderiam doar de acordo com suas possibilidades e os pobres retirariam conforme suas necessidades.
Rabi Levi Itschak irritou-se: “Mas foi para isso que vocês me chamaram? Acaso não havíamos combinado de que só seria chamado em caso de novidade?
Os líderes não entenderam: “Mas, rabino. É uma nova idéia!”
“Não há nada de novo nisso.” – disse o mestre – “Na realidade, é uma idéia muito antiga. Os moradores de Sodoma e Gomorra já o faziam. Eles tinham uma caixa, na qual os ricos deixavam seus donativos, assim não precisavam olhar nos olhos dos pobres.”



Questões para reflexão:

1) O que você aprendeu com esta história?
2) Como podemos aplicar Guemilut Chassadim aqui em nossa vida?
3) Como aprimorar a participação do voluntariado em nossas atividades?

Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mulheres pela defesa de Israel


Find this video and thousands of others at vSocial!

terça-feira, 10 de julho de 2007

VERGONHA - SINTUSP - Queremos a destruição de Israel


Você pode não ter paciência para ver todo nosso material no YouTube, mas deve assistir a este vídeo de 4m30s colocado no ar pelo SINTUSP (sindicato de trabalhadores da Universidade de São Paulo), funcionários públicos federais, pagos com o dinheiro dos impostos que arrecadamos defendendo a destruição de Israel, a destruição da burguesia, a destruição de todos os Estados e dizendo que os trabalhadores brasileiros precisam estar ombro a ombro, lado a lado com o Hezbollah, que é marxista... e que o conflito no Oriente Médio é entre burgueses e proletariado oprimido... Está muito claro que é isso que defendem em suas "escolas", reuniões, publicações de sindicatos etc. É vergonhoso! O vídeo foi produzido pelo SINTUSP e veiculado pelo SINTUSP. Eles têm orgulho do que fazem... Sugerimos que sejam lidos os comentários a este vídeo lá no YouTube.

http://br.youtube.com/watch?v=RnljOrCf1b0

Fonte: FIERJ

Parashá da Semana


Matot-Massei (Números 30:2 - 36:13)


Neste Shabat lemos duas Parashiot: Matot e Maasê. A Parashá de Matot, que significa chefes das tribos à quem fora ensinad leis referentes à promessa ou juramentos que a pessoa possa fazer. Estas promessas deverão ser fielmente cumpridas. Salvo em casos específicos como no caso de uma mulher que fez uma promessa a seu pai, antes dela casar, ou aseu marido, após o seu casamento, cancelarem esta promessa no dia em que eles tomaram conhecimento, esta se torna nula. A Parashá segue relatando a guerra contra Midyan, no qual mil homens de cada tribo foram destacados. Foram mortos os soldados, generais e reis de Midyan, assim como as mulheres que corromperam os israelitas. Nesta ocasião foram ensinados as leis referentes a Casherização (tornar um utensílio apto para a cozinha Casher), pois o estojo da guerra incluía muitos utensílios. Aqueles usados diretamente no fogo deveriam ser casherizados com fogo. Os outros utensílios eram imersos em água fervendo. Todos eles eram submetidos a Micvá (banho ritual) para assim serem purificados. A Parashá especifica o total dos animais capturados e como eles foram divididos entre os soldados e o resto do povo, ficando uma porcentagem ( de 1/500) para os Cohanim e ( de 1/50) para os Leviim. A Parashá segue relatando o pedido da Tribos de Reuven, Gad e metade da tribo de Menashe que queriam ficar morando nas terras já conquistadas do lado oeste da Terra de Israel, onde havia muito pasto para o seu gado. Moisés aceitou na condição de que os homens destas tribos em idade de guerra entrassem na Terra de Israel para ajudar na conquista da terra. A Parashá de Maasê (viagens, jornadas) que encerra o quarto livro da Torá, inicia especificando as quarenta e duas paradas e os acontecimentos durante os quarenta anos no deserto. Continua relatando as palavras de D-us referente à conquistas e destruição de toda a idolatria existente em Israell. Especifica em detalhes os limites da terra a ser conquistada e dividida. Nomeia o responsável de cada tribo nesta divisão. Ordena a entrega aos leviim de quarenta e duas cidades, incluindo os seus arredores em um raio de 1,2 km. Pois estes não receberiam Terra juntamente com o resto do povo. A Parashá ensina as leis referentes a uma pessoa que matou involuntariamente. Este tinha que se refugiar de parentes da vítima em uma das seis cidades previamente separadas para esta finalidade. Se após o julgamento ficasse comprovado que de fato matou sem querer, passava a viver em uma destas cidades até o falecimento do Cohen Gadol (Sumo-Sacerdote) vigente. A Parashá termina relatando que as cinco filhas de Tselofchad, casaran-se com homens da mesma tribo a que pertenciam, a tribo de Menashe, ficando assim as suas propriedades de herança dentro da mesma tribo.

Fonte: Oneg Shabat

Chinuch - Educação Judaica


“Jerusalém foi destruída porque as crianças deixaram de freqüentar as escolas” (Talmud Shabat 119a)




A grande importância atribuída à educação na Lei Judaica e literatura não encontra paralelos. A Torá claramente indica a importância do estudo e crescimento mental desde o berço e por toda a vida. O propósito da educação sob a perspectiva bíblica é desenvolver indivíduos que tenham a capacidade de refletir sobre os valores éticos e morais contidos na Torá e, conseqüentemente, aplicá-los em seu cotidiano.
Educação é, antes de mais nada, uma obrigação dos pais, como está escrito: “E as inculcarás” – as palavras do Eterno – “a teus filhos e delas falarás, sentado em tua casa, andando pelo caminho e ao deitar-te a ao levantar-te”(Deuteronômio 6:7). Quatro vezes ao dia recitamos esta passagem, que compõe o primeiro parágrafo do hino à unicidade Divina – o Shemá Israel.
No escopo da Lei Judaica, a educação é chamada de chinuch, ou seja, um desenvolvimento intelectual baseado nos valores judaicos. A palavra chinuch também significa inauguração; ou seja, “inauguramos” uma nova vida, permeando-a de conteúdo sólido e consistente. Este tema aparece com freqüência na Torá e Profetas. Com relação a Abrãao, encontramos a seguinte passagem: “Porque o conheci e sei que ordenará a seus filhos e à sua casa depois dele de modo que guardem o caminho do Eterno, para fazer caridade e justiça” (Gênesis 18:19).
Basicamente, o judaísmo reconhece o lar como o fundamento educacional para o desenvolvimento moral da criança. É conhecido o fato de que “o que a criança diz na rua, é o que ouviu em casa de seu pai e sua mãe” (Talmud Sucá 53 – Rashi). Em outras palavras, a criança tende a imitar seus pais, extraindo de sua conduta exemplos para si mesma. Este é o primeiro e mais essencial cuidado na criação dos menores: o educador precisa ser o exemplo vivo daquilo que ensina, uma vez que a criança se identifica com ele. Exigir um comportamento não condizente com as atitudes do educador e/ou realidade familiar da criança (por exemplo: ensinar a obrigação do acendimento das velas do Shabat, porém a mãe não o faz em casa) é confundir ainda mais aquela cabeça ávida por novas descobertas. Num primeiro momento, tal confusão poderá ser contornada. Porém, dúvidas não esclarecidas podem acabar resultando em revoltas contra todo o processo. Uma pequena história reflete bem este problema:

Johnny tinha seis anos de idade e estava em companhia de seu pai quando este foi flagrado em excesso de velocidade. O pai entregou ao guarda, junto à sua carteira e habilitação, uma nota de vinte dólares. “Está tudo bem, filho “- disse ele. “Todo mundo faz isso”.
Quando tinha oito anos, deixaram que ele assistisse a uma reunião de família dirigida pelo tio George, sobre a maneira mais segura de sonegar o Imposto e Renda. “Está tudo bem, garoto”- disse o tio. “Todo mundo faz isso”.
Aos nove anos, a mãe levou-o pela primeira vez ao teatro. O bilheteiro não conseguiu arranjar lugares até que a mãe do Johnny lhe deu “por fora” cinco dólares. “Está tudo bem, meu filho. Todo mundo faz isso”.
Com dez anos, ele quebrou os óculos à caminho da escola. A tia Francine convenceu a companhia de seguro de que eles haviam sido roubados e recebeu uma indenização de 75 dólares. “Está tudo bem, querido sobrinho. Todo mundo faz isso”.
Aos quinze anos, foi escolhido para jogar como lateral direito no time de futebol da escola. Os treinadores lhe ensinaram como interceptar e, ao mesmo tempo, agarrar o adversário sem ser visto pelo juiz. “Está tudo bem, campeão. Todo mundo faz isso.”
Aos dezesseis anos, arranjou seu primeiro emprego nas férias de verão, trabalhando num supermercado. Seu trabalho: pôr morangos maduros demais no fundo das caixas e os bons em cima, para ludibriar o freguês. “Tudo bem, garoto.”- disse o gerente – “Todo mundo faz isso”.
Já com dezoito anos, Johnny e um vizinho candidataram-se a uma bolsa de estudos. Johnny era um estudante medíocre. O vizinho, pelo contrário, era um dos primeiros da classe, mas um fracasso como lateral direito no time de futebol. Johnny ganhou a bolsa. “Está tudo bem, filho.” – disseram os pais - “Todo mundo faz isso.”
Quando tinha dezenove anos, um colega mais adiantado lhe ofereceu, por cinqüenta dólares, as questões que iam cair numa prova. “Tudo bem, colega. Todo mundo faz isso.”
Johnny, flagrado colando, foi expulso da sala e voltou para casa com o rabo entre as pernas. “Como foi que você pôde fazer isso com sua mãe e comigo?” – disse o enfurecido pai. “Você nunca aprendeu essas coisas em casa!” O tio e a tia também ficaram chocados.
Se há uma coisa que o mundo adulto não pode tolerar é um garoto que cola nos exames...


É justamente no fazer ou deixar de fazer que reside a base da formação do indivíduo; o jovem assume como correto o que seus educadores (pais e/ou mestres) fazem. Porém, cabe a estes a responsabilidade pela qualidade dos exemplos a serem passados. No caso dos pais, a educação pelo exemplo deve começar desde cedo, como conta a seguinte anedota:

Certa vez uma jovem mãe foi pedir um conselho a um sábio sobre quando começar a educação de seu primeiro filho. “Qual é a idade da criança”- perguntou o sábio. “Ela só tem alguns dias” – respondeu a mãe. E concluiu o sábio: “Então a senhora está nove meses atrasada!”

Nossos sábios foram além, afirmando que a educação deva começar tão logo a criança aprenda a falar (Talmud Sucá 42a), pois o perigo de seu adiamento reside na possibilidade de nunca vir a se concretizar.
Ao mesmo tempo, a família é, segundo a Torá, o mais importante pilar desta instituição. É a união, convivência e, principalmente, prática familiares que solidificam a formação do educando. Famílias desestruturadas geram filhos desestruturados, sendo que tanto o pai quanto a mãe são igualmente responsáveis por ensinar ao filho os valores judaicos para que ele mesmo possa se desenvolver como um bom judeu, como está dito: “Educa o pequeno conforme seu caminho, pois, por mais que envelheça, não se desviará dele” (Provérbios 22:6). São eles os responsáveis pela formação do caráter da criança; uma vez consolidado, o terá como suporte por toda sua existência.
Neste contexto, a palavra chinuch pode parecer um tanto vaga. Sabemos que os pais são os responsáveis pela educação da criança. Mas, de acordo com nossos sábios, como se dá isso? “O pai tem para com seu filho as obrigações de circuncidá-lo, redimi-lo, ensinar-lhe a Torá, casá-lo e ensinar-lhe um ofício. E há quem diga: ensinar-lhe a nadar. Rabi Iehudá diz: todo aquele que não ensina a seu filho um ofício ensina-o a roubar” (Talmud Kidushin 29a). Nadar significa aprender a se defender. Assim como um nadador depende unicamente de sua habilidade, assim também o educando necessita conhecer seus potenciais, a fim de que possa sobreviver independentemente. Não obstante, a Torá reconhece, na mãe, um maior potencial educacional, uma vez que o vínculo se dá muito antes do nascimento, sendo que, tradicionalmente, chinuch encontra-se no conjunto de mitzvot específicas da mulher. De qualquer forma, ambos são responsáveis.
Num plano mais genérico, a comunidade também exerce seu papel fundamental. Desde os tempos de Moisés – que reunia multidões para propagar a palavra de D-us – a educação é uma missão comunitária. No Talmud, os pequenos alunos são chamados de tinokot shel beit raban – os bebês de seus mestres – ressaltando o caráter vital, íntimo e pessoal que a educação exercia e ainda exerce em nossa sociedade. Vale ressaltar que, na Idade Média, em épocas e lugares nos quais a educação infantil era simplesmente ignorada, as comunidades judaicas sempre tiveram vivas suas escolas. Mesmo no paupérrimo shtetl, sempre houve um meio de educar as crianças – o cheder. Cheder – nome até hoje utilizado para as escolas infantis ortodoxas – significa “quarto”. Mesmo na mais miserável das comunidades, nunca deixou de existir um pequeno e insalubre quarto, muitas vezes contendo apenas uma mesa, uma cadeira e uma vela, mas no qual a tradição e histórias judaicas eram passadas de geração em geração. Na História Judaica mais recente, a primeira missão do imigrantes ao desembarcarem nas Américas foi criar escolas judaicas, nas quais seus filhos pudessem manter acesa a chama do judaísmo.
Cabe citar trechos do artigo “O segredo da riqueza dos judeus”, de Gilberto Dimenstein, publicado na Folha de São Paulo de 26/01/97:

Desde seu lançamento, em 1901, o Prêmio Nobel foi conferido a 700 personalidades – 140 deles judeus. É uma estatística que impressiona: os judeus são, hoje, uma grupo de 16 milhões, num planeta habitado por quase 6 bilhões de pessoas. Mas são responsáveis por boa parte das grandes novidades científicas do século.
Um livro prestes a ser divulgado no reino Unido, preparado por um advogado de Nova York – Michael Shapiro – vai atiçar ainda mais a mística sobre uma suposta inteligência superior dos judeus. Depois de fazer pesquisa com filósofos, rabinos, escritores e cientistas, Shapiro produziu a lista dos cem mais importantes judeus. Estão alguns dos maiores pensadores e criadores da humanidade. Moldaram o que pensamos e até como nos vestimos. Existe algum segredo? (...) Como um povo tão pequeno consegue gerar tantos super-homens intelectuais? O segredo é que não existe segredo.
Por motivos religiosos, o analfabetismo é inexistente entre os judeus. Aos 13 anos, o menino é obrigado a subir ao púlpito e ler trecho do livro sagrado (Bar-Mitzvá). Portanto, ele deve saber pelo menos uma língua. Os judeus são ensinados a reverenciar a rebeldia intelectual – rebeldia sintetizada em Abrãao, ao destruir os deuses e inaugurar o monoteísmo. Nada mais é do que os educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. (...)
Nenhum povo foi tão perseguido e humilhado por tanto tempo como os judeus, o que gerou uma série de efeitos colaterais. Um deles é o valor da educação para a sobrevivência. Podem arrancar suas terras, propriedades, mas não o que está em suas cabeças.(...) Não há nenhum segredo dos judeus escondido na genética ou escolha divina. Só o óbvio: culto à educação.






Chinuch é uma meta a ser atingida por todos nós. Mas, para isso, é importante que as três vértices do triângulo ( FAMÍLIA/ COMUNIDADE/ CONGREGAÇÃO e ESCOLA) trabalhem em conjunto, propiciando uma educação de base e, ao mesmo tempo, mecanismos para que as teorias possam ser aplicadas na prática.

Rabi Tarfon e os anciãos estavam reunidos quando uma questão se apresentou diante deles. “ Qual é maior: o estudo ou a prática?” Rabi Tarfon respondeu: “A prática é maior”. Rabi Akiva replicou: “o estudo é maior, sempre que levado à prática”. E os anciãos, em uníssono, disseram: “o estudo é maior, sempre que levado à prática.” (Talmud Kidushin 40b)




Questões para reflexão:


1) O que é chinuch para você?
2) Como você aplica este conceito na sua família?
3) Reflita sobre a frase: “Educação sem visão é como presente sem futuro” (P. Shifman). Agora, responda: o que pode ser feito para melhorar o chinuch em sua comunidade?
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Construindo pontes


Certa vez, dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida trabalhando lado a lado, repartindo as ferramentas e cuidando um do outro. Durante anos percorreram uma estreita, porém comprida estrada que corria ao longo do rio para, ao final de cada dia, poderem atravessá-lo e desfrutarem um da companhia do outro. Apesar do cansaço, faziam-no com prazer, pois se amavam. Mas agora tudo havia mudado. O que começara com um pequeno mal entendido finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Ao abri-la, notou um homem com uma caixa de ferramentas de carpinteiro em sua mão. “Estou procurando por trabalho”- disse ele. “Talvez você tenha um pequeno serviço aqui e ali. Posso ajudá-lo?”
“Sim!” – disse o fazendeiro – “Claro que tenho trabalho para você. Veja aquela fazenda além do riacho. É de meu vizinho, na realidade, meu irmão mais novo. Brigamos muito e não mais posso suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira perto do celeiro? Quero que você me construa uma cerca bem alta ao longo do rio para que eu não mais precise vê-lo.
“Acho que entendo a situação”- disse o carpinteiro – “Mostre-me onde estão a pá e os pregos que certamente farei um trabalho que lhe deixará satisfeito.” Como precisava ir à cidade, o irmão mais velho ajudou o carpinteiro a encontrar o material e partiu.
O homem trabalhou arduamente durante todo aquele dia medindo, cortando e pregando. Já anoitecia quando terminou sua obra, ao mesmo tempo que o fazendeiro retornava. Porém, seus olhos não podiam acreditar no que viam. Não havia qualquer cerca! Em seu lugar estava uma ponte que ligava um lado do riacho ao outro. Era realmente um belo trabalho, mas, enfurecido, exclamou: “Você é muito insolente em construir esta ponte após tudo que lhe contei”
No entanto, as surpresas não haviam terminado. Ao erguer seus olhos para a ponte mais uma vez, viu seu irmão aproximando-se da outra margem, correndo com seus braços abertos. Cada um dos irmãos permaneceu imóvel de seu lado do rio, quando, num só impulso, correram um na direção do outro, abraçando-se e chorando no meio da ponte.
Emocionados, viram o carpinteiro arrumando suas ferramentas e partindo. “Não, espere!”- disse o mais velho – “Fique conosco mais alguns dias. Tenho muitos outros projetos para você”
E o carpinteiro respondeu: “Adoraria ficar. Mas tenho muitas outras pontes para construir.”
Assumamos uma missão em nossos corações: vamos construir pontes! Quando a vida impuser um rio de separação entre nós, não nos sirvamos disso como desculpa para abandonar o campo de batalha. Quando houver injustiça e solidão na outra margem, não tenhamos medo de correr ao outro lado com os braços abertos. É muito mais fácil fechar-se numa cerca e proteger-se dos problema. Afinal, construir uma ponte requer mais empenho; podemos nos molhar nas turbulentas águas da frustração e abrimos espaço para que o inimigo penetre em nossas vidas. É bem mais prático um muro! Mas precisamos arriscar. Só quem arrisca vive! Em hebraico, ponte escreve-se GUESHER. Com as mesmas letras, escrevemos REGUESH – sentimento, sensibilidade. Diz o Talmud (Brachot 6a): dvarim haiotsim min halev nichnassim el halev – o que sai do coração imediatamente entra no coração. Se começarmos a construir nossas pontes em nossos corações, com certeza atingiremos nossos objetivos.


Prof. Sami Goldstein

Rabino da Comunidade Israelita do Paraná

Conhecimento ou heresia?

“Fundamento dos fundamentos e pilar dos conhecimentos é saber que existe uma Existência inicial; e Ele cria toda a criação...”. Assim começa Maimônides (séc. XII) sua tão célebre obra, o Mishnê Torá.
Saber que existe D-us. Saber como?
Eis uma boa pergunta. O autor, na continuação, em vez de dar-nos uma justificativa à sua afirmação, concentra-se , apenas, em enumerar uma série de fatores que unem todo o universo à figura Divina: o sol, a lua, as órbitas, os anjos, os quatro elementos, etc. Aprendemos, no decorrer da leitura, uma grande lição sobre astronomia, mística, geologia. Mas, voltando à nossa pergunta: como saber que Deus realmente existe? E não somente isso: mais adiante (Teshuvá 3, 7), Maimônides classifica de herege todo aquele que nisso não acreditar.
Nossa natureza faz-nos acreditar e conhecer somente aquilo que temos diante de nossos olhos. Tudo o que pode ser tocado, mexido, analisado ou “desmontado”. Nossa lógica faculta-nos a permissão de afirmar com um “sim” somente o que nosso raciocínio humano consegue captar. Com a evolução do homem e seu conseqüente desenvolvimento intelectual, muitas das perguntas - que antes eram apenas respondidas com um sacrifício ou uma oferenda, por exemplo - passaram a se revestir de mistério e magia à humanidade. E muitos cientistas, na busca da verdade observada, testada e comprovada, durante séculos negaram a existência de um Criador. Por quê? Simplesmente pelo mesmo motivo que Maimônides também não esclareceu: como saber que Ele existe?
Na realidade, para responder a esta pergunta, e necessário adentrarmos um pouco mais a fundo nas bases da fé judaica. Dizer que temos resposta à todas às nossas perguntas é contrário ao próprio espírito judaico: o de questionar e duvidar. O próprio Moisés, ao perguntar a D-us qual o Seu nome para transmitir ao povo, recebeu como resposta: “... serei o que serei...” (Êxodo 3:14). Acaso isto é uma resposta? A verdade é que, segundo a Cabalá, nem mesmo Moisés, cujo nível profético não pôde ser alcançado pelos demais profetas bíblicos, pôde, à primeira vista, realmente saber se Ele existe, uma vez que nem mesmo ele teve acesso a essência Divina. Cientificamente falando, Moisés não teve como “testar” a existência de Deus e saber como Ele “funciona” exatamente. Cientificamente falando, pode ser que ele teve uma alucinação e as dez pragas, como vem sendo discutido, fenômenos naturais. E se disserem: mas, diante do Monte Sinai, segundo a tradição, todos ouviram a voz divina! Cientificamente falando, debaixo do sol daquele deserto pode-se ouvir e ver o que quiser.
E é aí que entra a fé. Existem dois meios de analisarmos um objeto: derech hachiuv (afirmação positiva) e derech hashlilá (afirmação negativa). Tome por exemplo, um objeto que está diante de você neste momento. Que tal este monitor? Pelo primeiro método, você pode afirmar que ele é feito de vidro, é quadrado, etc. Já pelo segundo, você pode dizer que ele não é feito de madeira ou qualquer outro material, que não é redondo, etc. Você está negando alguma coisa? Muito pelo contrário. Você está apenas afirmando o que não é! E é esta a disputa entre a ciência e a fé: para a ciência, somente o que pode ser afirmado “positivamente” é aceito como existência e somente então pode ser publicado nas revistas científicas mais importantes; já para a fé, saber o que determinada coisa não é já é conhecimento. No caso, D-us. Podemos não saber o que Ele é. Mas sabemos o que ele NÃO é! Sabemos que Ele não é apenas este jornal que está em suas mãos. E isto já é um belo passo.
Porém, falei sobre disputa entre ciência e fé. Seriam contraditórias? Claro que não. Judaicamente falando, esta é a única heresia para Maimônides. Os seres humanos, dotados de inteligência, devem, por sua natureza, pesquisar e pesquisar até desvendar todos os mistérios que os cercam. É este o papel da ciência. Ela funciona como um trampolim para a fé. Até onde podemos alcançar... não devemos medir esforços para fazê-lo. E, a partir deste ponto, devemos crer. Mas nunca sem antes tentar descobrir o que é. Aceitar que D-us é D-us simplesmente porque alguém disse ou está escrito em algum livro, esta é a heresia. Aceitar D-us porque cientificamente podemos afirmar sua existência e, principalmente, sentimos, isto é judaísmo. Assim, Moisés e o povo souberam que “serei o que serei” significa a existência de um ser diferente de todos os que conheciam. E por que a disputa? Pois ambas não reconhecem sua interdependência. E não sou eu quem digo isso: “a ciência sem a fé é manca; porém, a fé sem a ciência é cega!” (Albert Einstein). Quem sabe, um dia...
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná