O dia 9 de Av relembra a tragédia que assolou o povo judeu. O golpe mais duro em seu orgulho religioso: a destruição de seus Templos Sagrados. Focos de peregrinação por séculos, eles transformaram-se no centro de atenção do judaísmo, sendo comparado, por muitos escritores, ao coração humano. Com a destruição do Segundo Templo, inicia-se a Grande Diáspora, na qual o povo, outrora feliz em sua terra natal, torna-se um conjunto de apátrios, exilados a países desconhecidos, espalhados entre povos nem sempre amistosos.
Em nossas vidas também procuramos centralizar nossos “focos”. Voltamos nossas faces às coisas as quais damos valor; valor que, nem sempre, é merecido. Cultuamos estes valores como um templo. E, quando nosso “centro” é destruído, nossa estrutura fica completamente abalada, fazendo-nos cair por terra. Imaginamos que nada mais tem sentido, e que nossa vida perdeu totalmente o seu rumo.
Hoje vamos falar sobre o outro lado. O que ganhamos com a destruição?
A mística judaica ensina um conceito muito interessante: ieridá tsorech alyiá - queda em função de uma ascensão. Para entendermos melhor, nossos sábios contam a seguinte história:
“As pessoas repararam que o rabino Shelomo vivia passeando por lugares de péssima fama. Os fiéis começaram a pensar que havia abandonado a busca espiritual e agora só desejava divertimento.
As conversas circularam, e ninguém ia mais à sinagoga. Um rapaz resolveu advertir o rabino: - “O senhor freqüenta lugares suspeitos. As pessoas andam comentando e não gostam disso.
O rabino respondeu: - “Se você quer tirar um homem da lama, não basta estender a mão de longe, porque os braços são curtos demais. A única solução é também entrar na lama, segurá-lo firme e puxá-lo para fora. É exatamente isto que estou fazendo. E minha tarefa é mais importante que a hipocrisia dos falsos devotos.”
A queda nem sempre implica em rebaixar-se. Às vezes torna-se necessária uma destruição de nossos valores (aqueles que elegemos como tais), para mostrar-nos o quão valiosos realmente são. A destruição dos Templos de Jerusalém ensina que a santidade deve transcender as limitações do ouro, prata e pedra. Somente com a descida - a procura pela humildade - é que podemos reparar os pilares que sustentam a nossa existência. De baixo é que começamos a escalada rumo ao topo, passo a passo, degrau por degrau.
Eis os eventos que aconteceram no dia 9 de Av, na História Judaica:
· foi decretado que a geração libertada do Egito não entraria na Terra Prometida;
· os dois Templos foram destruídos;
· no ano 133, a cidade de Betar foi destruída, com a morte de cerca de meio milhão de judeus;
· em 1290, o rei Eduardo decretou a expulsão dos judeus da Inglaterra;
· em 1492, os reis da Espanha decretaram a expulsão dos judeus de seus domínios;
· em 1648, os cossacos atacaram a comunidade judaica de Constantinopla, matando três mil pessoas;
· em 1941, foi promulgado e decreto que criava o Gueto de Varsóvia;
· em 1942, forma inauguradas as câmaras ed gás de Auschwitz (23 de julho);
· em 1955, a primeira vez que um avião da El Al é abatido, no espaço aéreo búlgaro.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná