“Fundamento dos fundamentos e pilar dos conhecimentos é saber que existe uma Existência inicial; e Ele cria toda a criação...”. Assim começa Maimônides (séc. XII) sua tão célebre obra, o Mishnê Torá.
Saber que existe D-us. Saber como?
Eis uma boa pergunta. O autor, na continuação, em vez de dar-nos uma justificativa à sua afirmação, concentra-se , apenas, em enumerar uma série de fatores que unem todo o universo à figura Divina: o sol, a lua, as órbitas, os anjos, os quatro elementos, etc. Aprendemos, no decorrer da leitura, uma grande lição sobre astronomia, mística, geologia. Mas, voltando à nossa pergunta: como saber que Deus realmente existe? E não somente isso: mais adiante (Teshuvá 3, 7), Maimônides classifica de herege todo aquele que nisso não acreditar.
Nossa natureza faz-nos acreditar e conhecer somente aquilo que temos diante de nossos olhos. Tudo o que pode ser tocado, mexido, analisado ou “desmontado”. Nossa lógica faculta-nos a permissão de afirmar com um “sim” somente o que nosso raciocínio humano consegue captar. Com a evolução do homem e seu conseqüente desenvolvimento intelectual, muitas das perguntas - que antes eram apenas respondidas com um sacrifício ou uma oferenda, por exemplo - passaram a se revestir de mistério e magia à humanidade. E muitos cientistas, na busca da verdade observada, testada e comprovada, durante séculos negaram a existência de um Criador. Por quê? Simplesmente pelo mesmo motivo que Maimônides também não esclareceu: como saber que Ele existe?
Na realidade, para responder a esta pergunta, e necessário adentrarmos um pouco mais a fundo nas bases da fé judaica. Dizer que temos resposta à todas às nossas perguntas é contrário ao próprio espírito judaico: o de questionar e duvidar. O próprio Moisés, ao perguntar a D-us qual o Seu nome para transmitir ao povo, recebeu como resposta: “... serei o que serei...” (Êxodo 3:14). Acaso isto é uma resposta? A verdade é que, segundo a Cabalá, nem mesmo Moisés, cujo nível profético não pôde ser alcançado pelos demais profetas bíblicos, pôde, à primeira vista, realmente saber se Ele existe, uma vez que nem mesmo ele teve acesso a essência Divina. Cientificamente falando, Moisés não teve como “testar” a existência de Deus e saber como Ele “funciona” exatamente. Cientificamente falando, pode ser que ele teve uma alucinação e as dez pragas, como vem sendo discutido, fenômenos naturais. E se disserem: mas, diante do Monte Sinai, segundo a tradição, todos ouviram a voz divina! Cientificamente falando, debaixo do sol daquele deserto pode-se ouvir e ver o que quiser.
E é aí que entra a fé. Existem dois meios de analisarmos um objeto: derech hachiuv (afirmação positiva) e derech hashlilá (afirmação negativa). Tome por exemplo, um objeto que está diante de você neste momento. Que tal este monitor? Pelo primeiro método, você pode afirmar que ele é feito de vidro, é quadrado, etc. Já pelo segundo, você pode dizer que ele não é feito de madeira ou qualquer outro material, que não é redondo, etc. Você está negando alguma coisa? Muito pelo contrário. Você está apenas afirmando o que não é! E é esta a disputa entre a ciência e a fé: para a ciência, somente o que pode ser afirmado “positivamente” é aceito como existência e somente então pode ser publicado nas revistas científicas mais importantes; já para a fé, saber o que determinada coisa não é já é conhecimento. No caso, D-us. Podemos não saber o que Ele é. Mas sabemos o que ele NÃO é! Sabemos que Ele não é apenas este jornal que está em suas mãos. E isto já é um belo passo.
Porém, falei sobre disputa entre ciência e fé. Seriam contraditórias? Claro que não. Judaicamente falando, esta é a única heresia para Maimônides. Os seres humanos, dotados de inteligência, devem, por sua natureza, pesquisar e pesquisar até desvendar todos os mistérios que os cercam. É este o papel da ciência. Ela funciona como um trampolim para a fé. Até onde podemos alcançar... não devemos medir esforços para fazê-lo. E, a partir deste ponto, devemos crer. Mas nunca sem antes tentar descobrir o que é. Aceitar que D-us é D-us simplesmente porque alguém disse ou está escrito em algum livro, esta é a heresia. Aceitar D-us porque cientificamente podemos afirmar sua existência e, principalmente, sentimos, isto é judaísmo. Assim, Moisés e o povo souberam que “serei o que serei” significa a existência de um ser diferente de todos os que conheciam. E por que a disputa? Pois ambas não reconhecem sua interdependência. E não sou eu quem digo isso: “a ciência sem a fé é manca; porém, a fé sem a ciência é cega!” (Albert Einstein). Quem sabe, um dia...
Saber que existe D-us. Saber como?
Eis uma boa pergunta. O autor, na continuação, em vez de dar-nos uma justificativa à sua afirmação, concentra-se , apenas, em enumerar uma série de fatores que unem todo o universo à figura Divina: o sol, a lua, as órbitas, os anjos, os quatro elementos, etc. Aprendemos, no decorrer da leitura, uma grande lição sobre astronomia, mística, geologia. Mas, voltando à nossa pergunta: como saber que Deus realmente existe? E não somente isso: mais adiante (Teshuvá 3, 7), Maimônides classifica de herege todo aquele que nisso não acreditar.
Nossa natureza faz-nos acreditar e conhecer somente aquilo que temos diante de nossos olhos. Tudo o que pode ser tocado, mexido, analisado ou “desmontado”. Nossa lógica faculta-nos a permissão de afirmar com um “sim” somente o que nosso raciocínio humano consegue captar. Com a evolução do homem e seu conseqüente desenvolvimento intelectual, muitas das perguntas - que antes eram apenas respondidas com um sacrifício ou uma oferenda, por exemplo - passaram a se revestir de mistério e magia à humanidade. E muitos cientistas, na busca da verdade observada, testada e comprovada, durante séculos negaram a existência de um Criador. Por quê? Simplesmente pelo mesmo motivo que Maimônides também não esclareceu: como saber que Ele existe?
Na realidade, para responder a esta pergunta, e necessário adentrarmos um pouco mais a fundo nas bases da fé judaica. Dizer que temos resposta à todas às nossas perguntas é contrário ao próprio espírito judaico: o de questionar e duvidar. O próprio Moisés, ao perguntar a D-us qual o Seu nome para transmitir ao povo, recebeu como resposta: “... serei o que serei...” (Êxodo 3:14). Acaso isto é uma resposta? A verdade é que, segundo a Cabalá, nem mesmo Moisés, cujo nível profético não pôde ser alcançado pelos demais profetas bíblicos, pôde, à primeira vista, realmente saber se Ele existe, uma vez que nem mesmo ele teve acesso a essência Divina. Cientificamente falando, Moisés não teve como “testar” a existência de Deus e saber como Ele “funciona” exatamente. Cientificamente falando, pode ser que ele teve uma alucinação e as dez pragas, como vem sendo discutido, fenômenos naturais. E se disserem: mas, diante do Monte Sinai, segundo a tradição, todos ouviram a voz divina! Cientificamente falando, debaixo do sol daquele deserto pode-se ouvir e ver o que quiser.
E é aí que entra a fé. Existem dois meios de analisarmos um objeto: derech hachiuv (afirmação positiva) e derech hashlilá (afirmação negativa). Tome por exemplo, um objeto que está diante de você neste momento. Que tal este monitor? Pelo primeiro método, você pode afirmar que ele é feito de vidro, é quadrado, etc. Já pelo segundo, você pode dizer que ele não é feito de madeira ou qualquer outro material, que não é redondo, etc. Você está negando alguma coisa? Muito pelo contrário. Você está apenas afirmando o que não é! E é esta a disputa entre a ciência e a fé: para a ciência, somente o que pode ser afirmado “positivamente” é aceito como existência e somente então pode ser publicado nas revistas científicas mais importantes; já para a fé, saber o que determinada coisa não é já é conhecimento. No caso, D-us. Podemos não saber o que Ele é. Mas sabemos o que ele NÃO é! Sabemos que Ele não é apenas este jornal que está em suas mãos. E isto já é um belo passo.
Porém, falei sobre disputa entre ciência e fé. Seriam contraditórias? Claro que não. Judaicamente falando, esta é a única heresia para Maimônides. Os seres humanos, dotados de inteligência, devem, por sua natureza, pesquisar e pesquisar até desvendar todos os mistérios que os cercam. É este o papel da ciência. Ela funciona como um trampolim para a fé. Até onde podemos alcançar... não devemos medir esforços para fazê-lo. E, a partir deste ponto, devemos crer. Mas nunca sem antes tentar descobrir o que é. Aceitar que D-us é D-us simplesmente porque alguém disse ou está escrito em algum livro, esta é a heresia. Aceitar D-us porque cientificamente podemos afirmar sua existência e, principalmente, sentimos, isto é judaísmo. Assim, Moisés e o povo souberam que “serei o que serei” significa a existência de um ser diferente de todos os que conheciam. E por que a disputa? Pois ambas não reconhecem sua interdependência. E não sou eu quem digo isso: “a ciência sem a fé é manca; porém, a fé sem a ciência é cega!” (Albert Einstein). Quem sabe, um dia...
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná