Adversidades ocorrem em nossas vidas. Por mais que planejemos, sempre estaremos sujeitos a que nossos planos percam sua efetividade. Quando temos sucesso em nossas empreitadas, assumimos que o mérito é todo nosso: nós fizemos, nós conseguimos, nós alcançamos. Mas quando algo sai errado, muitos apontam para apenas um culpado: Deus.
Ouvimos frases como: “D-us não gosta de mim”, “Ele está contra mim”, etc, e estes são o estopim de uma revolta interior.
D-us? Que parcela de culpa tem Ele naquilo que dá de errado em nossas vidas? Será que o Benevolente, o Bondoso, o Piedoso, o Misericordioso (como referimo-nos a Ele durante as orações), Aquele que nos deu o dom da vida, pode realmente transformar-se, de uma hora para a outra, na “pedra do nosso sapato”?
Conta-se a seguinte história:
Um discípulo procurou o Rav Nachman de Breslav: “Não continuarei meu estudos dos textos sagrados”, disse. “Moro numa casa com meus irmãos e pais, e nunca encontro as condições ideais para concentrar-me”. O rabino então apontou para o sol e pediu para que o discípulo colocasse a mão na frente do rosto, de modo a ocultá-lo. E assim fez o discípulo. Concluiu o sábio rabino: “Sua mão é pequena, e, mesmo assim, conseguiu cobrir por completo a força, a luz, e a majestade do imenso sol. Os pequenos problemas lhe dão a desculpa para não seguir em busca de seus objetivos. Ninguém é culpado pelo seu insucesso. Assim como a mão pode esconder o sol, o temor ao desafio tem o poder de esconder a luz interior. Não deixe que isto aconteça.
Paul Tillich, em seu The Courage To Be, afirma que “o mundo da angústia é um mundo em que as categorias, as estruturas da realidade, perderam o valor”. E, nesse mundo, quando perdemos a consciência de que nós somos os detentores da ação e, principalmente, da solução, procuramos um culpado para o nosso fracasso.
Uma das premissas judaicas é o Livre Arbítrio. O Todo- Poderoso, ao criar-nos, conforme o relato bíblico, deu-nos o reflexo de Sua imagem. E o que significa isso? O poder de decisão. Somos os únicos seres na Terra capazes de guiar nossas vidas por vontade própria. Nem mesmo o mais inteligente dos animais pode desvincular-se de seu instinto, por mais que seja ensinado a fazê-lo. Conforme Rabi Iochanán diz no Talmud (Sucá 53a): “Os pés de um homem são responsáveis por ele; eles o levam ao seu destino”. E este destino, de acordo com o judaísmo, não é pré-determinado. Temos em nossas mãos todas as ferramentas necessárias para reescrevê-lo constantemente. Mas, como mencionado anteriormente, estamos sujeitos a eventuais fracassos. Claro, vivemos regidos pelas leis da natureza. Se não fosse isso, não seríamos criaturas feitas à imagem de Deus e sim Suas marionetes!
Durante uma de minhas aulas, uma aluna me perguntou: “Mas que livre-arbítrio têm aqueles que sofrem com a fome no Nordeste? Acaso eles podem escolher entre a fome e a fartura?” A resposta para esta pergunta está no Birkat Hamazon, a prece que recitamos ao final das refeições: Baruch atá Ado-nai hazán et hacól, Bendito sejas, ó Eterno, que manténs a todos os seres. Se todo alimento provido pela Terra fosse repartido de forma justa e igual, não haveria mais fome. E com base nisto, podemos explicar várias tragédias que assolam a humanidade (até mesmo as da História Judaica), que são obras do homem, e não de D-us. Maimônides (Hilchót Teshuvá 5,2) afirma veementemente: “ninguém o força (o homem), ninguém decreta, ninguém o arrasta para nenhum dos lados; ele mesmo, conscientemente, toma o caminho que quer”. Nem sempre é o melhor. Esta é a mesma opinião de Rashi, ao comentar a Bíblia (Números 22:35): “O Todo-Poderoso ajuda o homem a trilhar as veredas que ele mesmo escolhe para si”.
Rav Nachman tinha razão: às vezes o medo de enfrentar o desafio faz com que pequenos problemas transformem-se em grandiosas desgraças, ocultando a luz que vem do íntimo de nosso ser. E quando entramos neste mundo - o mundo da angústia, da falta de esperança, da desmotivação - perdemos cada vez mais a noção da realidade e, consequentemente, a solução se torna cada vez mais difícil. Talvez não consigamos reverter nosso fracasso na primeira tentativa, ou na segunda, ou na terceira... mas não podemos desistir. Um filósofo disse: “uma pessoa só morre quando deixa de amar”, e amar significa lutar por aquilo que acreditamos. A versão judaica deste ditado diz que nada pode se opor à vontade humana. E mais: a lei é bem clara ao afirmar que “ein somchin al hanês” - não vivemos em função de milagres. Eventualmente podem ocorrer, podemos (às vezes devemos) orar para que aconteçam, mas é só. Ser judeu significa agir. Ser judeu significa manter o otimismo, mesmo quando este parece impossível. O desafio do destino está dentro de nós!
Ouvimos frases como: “D-us não gosta de mim”, “Ele está contra mim”, etc, e estes são o estopim de uma revolta interior.
D-us? Que parcela de culpa tem Ele naquilo que dá de errado em nossas vidas? Será que o Benevolente, o Bondoso, o Piedoso, o Misericordioso (como referimo-nos a Ele durante as orações), Aquele que nos deu o dom da vida, pode realmente transformar-se, de uma hora para a outra, na “pedra do nosso sapato”?
Conta-se a seguinte história:
Um discípulo procurou o Rav Nachman de Breslav: “Não continuarei meu estudos dos textos sagrados”, disse. “Moro numa casa com meus irmãos e pais, e nunca encontro as condições ideais para concentrar-me”. O rabino então apontou para o sol e pediu para que o discípulo colocasse a mão na frente do rosto, de modo a ocultá-lo. E assim fez o discípulo. Concluiu o sábio rabino: “Sua mão é pequena, e, mesmo assim, conseguiu cobrir por completo a força, a luz, e a majestade do imenso sol. Os pequenos problemas lhe dão a desculpa para não seguir em busca de seus objetivos. Ninguém é culpado pelo seu insucesso. Assim como a mão pode esconder o sol, o temor ao desafio tem o poder de esconder a luz interior. Não deixe que isto aconteça.
Paul Tillich, em seu The Courage To Be, afirma que “o mundo da angústia é um mundo em que as categorias, as estruturas da realidade, perderam o valor”. E, nesse mundo, quando perdemos a consciência de que nós somos os detentores da ação e, principalmente, da solução, procuramos um culpado para o nosso fracasso.
Uma das premissas judaicas é o Livre Arbítrio. O Todo- Poderoso, ao criar-nos, conforme o relato bíblico, deu-nos o reflexo de Sua imagem. E o que significa isso? O poder de decisão. Somos os únicos seres na Terra capazes de guiar nossas vidas por vontade própria. Nem mesmo o mais inteligente dos animais pode desvincular-se de seu instinto, por mais que seja ensinado a fazê-lo. Conforme Rabi Iochanán diz no Talmud (Sucá 53a): “Os pés de um homem são responsáveis por ele; eles o levam ao seu destino”. E este destino, de acordo com o judaísmo, não é pré-determinado. Temos em nossas mãos todas as ferramentas necessárias para reescrevê-lo constantemente. Mas, como mencionado anteriormente, estamos sujeitos a eventuais fracassos. Claro, vivemos regidos pelas leis da natureza. Se não fosse isso, não seríamos criaturas feitas à imagem de Deus e sim Suas marionetes!
Durante uma de minhas aulas, uma aluna me perguntou: “Mas que livre-arbítrio têm aqueles que sofrem com a fome no Nordeste? Acaso eles podem escolher entre a fome e a fartura?” A resposta para esta pergunta está no Birkat Hamazon, a prece que recitamos ao final das refeições: Baruch atá Ado-nai hazán et hacól, Bendito sejas, ó Eterno, que manténs a todos os seres. Se todo alimento provido pela Terra fosse repartido de forma justa e igual, não haveria mais fome. E com base nisto, podemos explicar várias tragédias que assolam a humanidade (até mesmo as da História Judaica), que são obras do homem, e não de D-us. Maimônides (Hilchót Teshuvá 5,2) afirma veementemente: “ninguém o força (o homem), ninguém decreta, ninguém o arrasta para nenhum dos lados; ele mesmo, conscientemente, toma o caminho que quer”. Nem sempre é o melhor. Esta é a mesma opinião de Rashi, ao comentar a Bíblia (Números 22:35): “O Todo-Poderoso ajuda o homem a trilhar as veredas que ele mesmo escolhe para si”.
Rav Nachman tinha razão: às vezes o medo de enfrentar o desafio faz com que pequenos problemas transformem-se em grandiosas desgraças, ocultando a luz que vem do íntimo de nosso ser. E quando entramos neste mundo - o mundo da angústia, da falta de esperança, da desmotivação - perdemos cada vez mais a noção da realidade e, consequentemente, a solução se torna cada vez mais difícil. Talvez não consigamos reverter nosso fracasso na primeira tentativa, ou na segunda, ou na terceira... mas não podemos desistir. Um filósofo disse: “uma pessoa só morre quando deixa de amar”, e amar significa lutar por aquilo que acreditamos. A versão judaica deste ditado diz que nada pode se opor à vontade humana. E mais: a lei é bem clara ao afirmar que “ein somchin al hanês” - não vivemos em função de milagres. Eventualmente podem ocorrer, podemos (às vezes devemos) orar para que aconteçam, mas é só. Ser judeu significa agir. Ser judeu significa manter o otimismo, mesmo quando este parece impossível. O desafio do destino está dentro de nós!
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná