“O catecismo do judeu é seu calendário” (Rabino Samson Raphael Hirsch)
Tal afirmação se deve ao fato de que o calendário judaico é base da vida cultural, religiosa e cívica de nossas comunidades. É impossível desvincular o judeu de seu calendário. Portanto, é importante conhecer seu funcionamento.
Como a economia da sociedade judaica primitiva era essencialmente agrícola, os primeiros calendários refletiam o interesse dos agricultores pelo solo. Em escavações arqueológicas, foram encontrados primitivos calendários que marcavam o ciclo da plantação, como o início da colheita, arado, semeadura, etc. No entanto, segundo a tradição judaica, o calendário tem base na Torá e é lunar (acompanhando as quatro fases lunares) e solar, ao mesmo tempo.
Durante muitos anos, os cálculos eram imprecisos. Na época do Segundo Templo, no Sinédrio (corpo legislativo de 71 anciãos), o início de cada mês era determinado quando duas testemunhas comunicavam-lhes terem avistado a Lua Nova. Os sábios, neste momento, levavam-nos a uma sala especial que tinha na parede uma tabela (Luach) com o desenho de vários formatos da lua. Indagavam-nos sobre qual o formato haviam visto, para não haver dúvidas. Uma vez constatada, o anúncio era despachado por meio de sinais de fogo ou emissários, os quais eram enviados para todos os confins de Israel e Diáspora. Aquele dia era então marcado como Rosh Chodesh – início do mês - muito festejado na Antigüidade. Até hoje mantemos a tradição, realizando um Serviço Religioso especial com leitura da Torá neste dia. Uma vez que tal forma de veiculação da notícia estava sujeita a falhas, ficou estipulado, em determinados meses, dois dias de Rosh Chodesh. Ou seja, nos meses em que há 30 dias, tanto o 30o dia do mês anterior como o 1o do mês seguinte são Rosh Chodesh. Um outra explicação para a variação de dias entre meses está no “ajuste” que deve ser feito de tempos em tempos, para que algumas datas não “caiam” em dias “proibidos”. Por exemplo: Yom Kipur nunca cai na sexta-feira, pois senão seria impossível preparar-se para o Shabat. Purim, por sua vez, nunca cairá no Shabat, para que possamos carregar os presentes comestíveis e entregar dinheiro aos pobres. Este ajuste se dá justamente nos meses “flexíveis”, nos quais a duração pode ser de 29 ou 30 dias.
Por que o frenesi com o início do mês? Pois a Torá estipula várias datas comemorativas e não teríamos como observá-las sem saber quando o mês se inicia.
O calendário como o conhecemos hoje em dia foi institucionalizado por Rabi Hilel filho de Yehudá Hanassi, conhecido com Hilel II, em 358 e.c., sendo que os cálculos foram utilizados para a definição dos anos posteriores. Vale ressaltar que foi muito criticado por vários rabinos que o sucederam, até que foi incrementado e aprovado por Rabi Saadia Gaon, em 840 e.c., estando, desde então, em vigência, sem alterações
Funcionamento do calendário
O mês
O mês é marcado pela volta da lua em torno da Terra, que dura 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundos, seguindo suas fases.
Segundo o costume bíblico, os meses são contados a partir do mês de Nissan. Conhecem-se apenas alguns nomes bíblicos de meses (Aviv e Ziv, na primavera; Bul e Etanim, no outono). Os nomes atuais são de origem babilônica, sendo que o início do calendário religioso se dá em Tishrei.
NOME HEBRAICO NOME BABILÔNIO DURAÇÃO
1. Tishrei Tashrêtu (começo) 30 dias
2. Cheshvan Arakhshamna 29/30 dias
3. Kislev Kislimu 29/30 dias
4. Tevet Tabêtu (inundação) 29 dias
5. Shevat Shabâtu (açoitamento) 30 dias
6. Adar Adaru 29 dias
7. Nissan Nissanu 30 dias
8. Iyar Ayaru (broto) 29 dias
9. Sivan Simânu 30 dias
10.Tamuz Du’ûzu (divindade) 29 dias
11. Av Abu 30 dias
12. Elul Ulúlu (purificação) 29 dias
A semana
A semana tem 7 dias de duração, sendo que somente o Shabat tem nome. Todos os demais são chamados de “primeiro ao Shabat”, “segundo ao Shabat”, etc., para marcar a ansiedade pelo sábado tão sagrado.
O dia
O dia não tem a exata duração de 24 horas. Segundo a Lei, os horários diários são estabelecidos em função das shaot zemaniot – horas temporais. Uma vez que a duração dos dias não é sempre igual (no verão temos dias mais extensos e no inverno, por sua vez, mais curtos) há a necessidade de se estabelecer, para cada dia, um novo cálculo. Para tanto, pega-se do nascer do sol ao pôr do sol e divide-se este intervalo por 12. Por exemplo:
• Nascer do sol 06:13
• Por do sol 18:58
• Subtrai-se 18,58 – 6,13 = 12,45
• Divide-se 12,45/12 = 1,03
Neste caso, teríamos um dia com horas de 1,03 h. Por isso os horários de acendimento das velas de Shabat e seu fim variam de semana para semana, por exemplo. Tal cálculo faz-se necessário em função de vários preceitos, como Serviços Religiosos, serem regidos pelo horário.
O ano
Ano solar = 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos
Ano lunar = 354 dias, 8 horas, 48 minutos e 36 segundos
Existe uma diferença de onze dias entre os calendários. Para que a celebração das Festas agrícolas ocorra na época correta, a mesma é eliminada pelo acréscimo de uma mês completo após Adar (neste caso, teremos Adar 1 e 2) sempre no 3o, 6o, 8o, 11o, 14o, 17o e 19o anos de cada ciclo de 19 anos. Estes anos são chamados Shaná Meubéret – o ano bissexto.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná