Para concluir, o que falar sobre a tão intrigante revelação de José no Egito? O padeiro, o copeiro, os sonhos do Faraó...
Existe um grande diferença entre os sonhos e o processo normal de vigília. Enquanto os pensamentos de alguém desperto consistem principalmente de discurso mental, ou seja, a pessoa pensa consigo mesma em termos de palavras e sentenças, o sonhos consistem quase que completamente de figuras e imagens. É, portanto, óbvio, que quando sobrevem o sonho, a mente começa a transformar, ou melhor dizendo, traduzir, o pensamento verbal em pensamento visionário. Isto é chamado, segundo Maimônides, o grande rabino e cientista do séc. XII, de Coach Hamedamé, ou a faculdade imaginativa. Já que durante o sono as letras e as palavras que consistem de um pensamento único, podem vir a se misturar com letras de outros pensamentos - como no exemplo dos slides - isto pode levar à confecção de palavras e idéias sem equivalência real no estado de vigília.. Conseqüentemente, estes pensamentos verbais , quando transformados em figuras, assumem exatamente a mesma forma. Seria algo como um dicionário mental. Assim, somos capazes de julgar fenômenos muitas vezes contraditórios e impossíveis por meio das letras dos diferentes objetos que se mesclam para conceber um novo equivalente visual correspondente. Em resumo, podemos dizer que o segredo da interpretação de um sonho é decifrar a nova codificação das letras mentais transformadas. Através deste processo, pode-se chegar a entender em que consistiam os pensamentos originais. Estudando a maneira pela qual a mente sintetizou estas imagens aparentemente não relacionadas, pode-se iluminar as trilhas da mente, discernindo o que associa internamente dois pensamentos que racionalmente são desprovidos de qualquer conexão.
De acordo com o comentarista bíblico Abravanel, este era o método de interpretação utilizado pelos feiticeiros do faraó em sua tentativa de desvendar seu misterioso sonho das vacas magras e das vacas gordas. Eles achavam que o sonho era apenas uma alegoria ou analogia, de um conceito oculto no íntimo e, examinando as figuras finais, poderiam regredir, por associação, à raiz inicial do pensamento. Isto teria uma grande utilidade, caso o pensamento original tivesse partido do próprio faraó. Como o sonho era, sem dúvida, clarividente, eles jamais poderiam chegar à imagem original, uma vez que a raiz não fazia parte de sua memória. E, neste caso, somente alguém com espírito elevado e em conexão com o Grande Pensador, poderia chegar à sua revelação. Tal nível só é adquirido por meio de dom divino ou por uma espiritualização do ser, que faz com que o homem possa enxergar, com maior nitidez, as centelhas divinas que se encontram presentes entre nós. Vamos traçar uma analogia para a passagem entre Faraó e José, que vai ajudar-nos a compreender melhor toda a situação. Imaginem um vidro translúcido. Embora você não tenha contato físico com o que ocorre do outro lado, você pode ver nitidamente, através dele, tudo o que se passa. Agora, tenham em mente outro vidro, desta vez fosco. A imagem e a luz continuam a atravessar a barreira, porém nós, do lado de cá, não conseguimos interpretar logicamente o que são. Esta é a grande diferença entre os profetas e nós, seres humanos comuns. Enquanto para nós, sonhos e situações aparentemente sem explicação são como silhuetas sem forma, para eles a grande barreira existente entre a essência do Infinito e as limitações do finito não impede que a revelação da vontade divina seja captada.
Ao longo da História Universal encontramos várias destas personagens imbuídas de uma visão superior. Talvez se conseguirmos, algum dia, desprender-nos do materialismo que nos cerca, consigamos ver o que eles viram.
Bibliografia
BOTEACH, Samuel Awakening to the world of dreams. New York, Bash
Publications, 1991
HOFFMAN, Edward The way of splendor – Jewish mysticism and modern
Psychology. Londres, Shambala, 1981
TALMUD Berachot cap 9 pgs 55-58 (versão original em hebraico-aramaico)
ZOHAR volume 2 pgs 164-260 (versão original em hebraico-aramaico)
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná
Existe um grande diferença entre os sonhos e o processo normal de vigília. Enquanto os pensamentos de alguém desperto consistem principalmente de discurso mental, ou seja, a pessoa pensa consigo mesma em termos de palavras e sentenças, o sonhos consistem quase que completamente de figuras e imagens. É, portanto, óbvio, que quando sobrevem o sonho, a mente começa a transformar, ou melhor dizendo, traduzir, o pensamento verbal em pensamento visionário. Isto é chamado, segundo Maimônides, o grande rabino e cientista do séc. XII, de Coach Hamedamé, ou a faculdade imaginativa. Já que durante o sono as letras e as palavras que consistem de um pensamento único, podem vir a se misturar com letras de outros pensamentos - como no exemplo dos slides - isto pode levar à confecção de palavras e idéias sem equivalência real no estado de vigília.. Conseqüentemente, estes pensamentos verbais , quando transformados em figuras, assumem exatamente a mesma forma. Seria algo como um dicionário mental. Assim, somos capazes de julgar fenômenos muitas vezes contraditórios e impossíveis por meio das letras dos diferentes objetos que se mesclam para conceber um novo equivalente visual correspondente. Em resumo, podemos dizer que o segredo da interpretação de um sonho é decifrar a nova codificação das letras mentais transformadas. Através deste processo, pode-se chegar a entender em que consistiam os pensamentos originais. Estudando a maneira pela qual a mente sintetizou estas imagens aparentemente não relacionadas, pode-se iluminar as trilhas da mente, discernindo o que associa internamente dois pensamentos que racionalmente são desprovidos de qualquer conexão.
De acordo com o comentarista bíblico Abravanel, este era o método de interpretação utilizado pelos feiticeiros do faraó em sua tentativa de desvendar seu misterioso sonho das vacas magras e das vacas gordas. Eles achavam que o sonho era apenas uma alegoria ou analogia, de um conceito oculto no íntimo e, examinando as figuras finais, poderiam regredir, por associação, à raiz inicial do pensamento. Isto teria uma grande utilidade, caso o pensamento original tivesse partido do próprio faraó. Como o sonho era, sem dúvida, clarividente, eles jamais poderiam chegar à imagem original, uma vez que a raiz não fazia parte de sua memória. E, neste caso, somente alguém com espírito elevado e em conexão com o Grande Pensador, poderia chegar à sua revelação. Tal nível só é adquirido por meio de dom divino ou por uma espiritualização do ser, que faz com que o homem possa enxergar, com maior nitidez, as centelhas divinas que se encontram presentes entre nós. Vamos traçar uma analogia para a passagem entre Faraó e José, que vai ajudar-nos a compreender melhor toda a situação. Imaginem um vidro translúcido. Embora você não tenha contato físico com o que ocorre do outro lado, você pode ver nitidamente, através dele, tudo o que se passa. Agora, tenham em mente outro vidro, desta vez fosco. A imagem e a luz continuam a atravessar a barreira, porém nós, do lado de cá, não conseguimos interpretar logicamente o que são. Esta é a grande diferença entre os profetas e nós, seres humanos comuns. Enquanto para nós, sonhos e situações aparentemente sem explicação são como silhuetas sem forma, para eles a grande barreira existente entre a essência do Infinito e as limitações do finito não impede que a revelação da vontade divina seja captada.
Ao longo da História Universal encontramos várias destas personagens imbuídas de uma visão superior. Talvez se conseguirmos, algum dia, desprender-nos do materialismo que nos cerca, consigamos ver o que eles viram.
Bibliografia
BOTEACH, Samuel Awakening to the world of dreams. New York, Bash
Publications, 1991
HOFFMAN, Edward The way of splendor – Jewish mysticism and modern
Psychology. Londres, Shambala, 1981
TALMUD Berachot cap 9 pgs 55-58 (versão original em hebraico-aramaico)
ZOHAR volume 2 pgs 164-260 (versão original em hebraico-aramaico)
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná