“Disse o Eterno a Moisés: Um belo presente tenho em meu tesouro e Shabat é o seu nome; e quero dá-lo a Israel...” (Talmud Shabat 10A)
O Shabat é o tesouro mais valioso que temos neste mundo e mais ainda: é nosso maior companheiro. Ele possui a força de transformar até mesmo a casa do mais pobre em um paraíso real e verdadeiro, pelo menos no aspecto espiritual.
O homem repete, em sua vida, o exemplo Divino. Durante seis dias trabalha incessantemente à procura de seu sustento, assim como o Criador, quem dedicou os primeiros seis dias iniciais para tornar a Criação perfeita em seus mínimos detalhes. Mas quando chega o Shabat, como num passe de mágica, transforma-se em outra pessoa. Assim como o Todo-Poderoso, consagra o sétimo dia à reflexão e contemplação da obra criada. E a mudança que nele ocorre é indescritível.
O Midrash se encarrega de explicar. D-us vira que os hebreus, no Egito, não tinham descanso. Então, dirigiu-se ao Faraó e disse: “o escravo que não tem um dia de descanso tem sua vida ameaçada”. Graças ao Shabat, estabeleceu-se o princípio segundo o qual os homens têm o direito de viver livres da escravidão imposta pela ininterrupta luta do dia-a-dia e de desfrutar, no seu sentir e pensar, a liberdade necessária para que possam sentir e vivenciar a sua origem Divina. Todas as suas preocupações e tormentos são esquecidos e um sentimento de alegria e tranqüilidade, que preenche todo seu coração, contagia todos os que o cercam. Absorvemos do Shabat incentivo, força, esperança e felicidade inacreditáveis.
Mendele Mocher Sfórim (1839-1917) assim descreve este dia: “nos dias úteis, o judeu é como uma larva em repouso, inerte em seu casulo; mas na véspera do sábado... rompe seu invólucro e logo se converte em uma magnífica borboleta, uma alma sublimada cheia de sentimentos puríssimos...”. Esta alma, uma alma adicional - Nefesh Yeterá - é desenvolvida em nós pelo Shabat, através da transformação na sua observância, envolvendo-nos durante todo este dia sagrado e partindo quando este chega ao seu fim, alimentando a esperança de que, após mais uma semana de trabalho contínuo, voltará para reanimar-nos e revitalizar-nos.
E, portanto, ao valorizar o Shabat - um dia na qual abstemo-nos de praticar qualquer modificação na natureza - o homem valoriza a si mesmo, ao constatar que existe um dia não dedicado ao trabalho como os outros seis, e sim voltado para ele próprio e D-us.
O descanso deste dia torna possível ao homem conscientizar-se de que “em seis dias fez D-us os céus e a terra” e, com isso, encontrar a centelha divina que existe ao seu redor.
O Shabat é a fortaleza que tem protegido o povo judeu durante gerações; é o refúgio para as nossas angústias; é o conforto espiritual a um mundo tão mergulhado no materialismo; uma proteção que, segundo nossos sábios talmúdicos, nunca desaparecerá de Israel. Este é o motivo do carinho e nobreza que atribuímos a nossa “Shabat Hamalká”- a Rainha Shabat. Este sentimento é expresso de forma maravilhosa quando cantamos o hino “Lechá Dodi” e, na última estrofe, voltamo-nos para a entrada da sinagoga, reverenciando a presença real, em toda sua santidade.
Enfim, o Shabat é o fundamento de nossa fé; é a consagração do tempo, elevando a tarefa realizada nos seis dias anteriores. A luz das velas do Shabat trazem paz às nossas almas. Uma mensagem mais do que propícia para a nossa época.
Santificá-lo é fazer a nossa parte para que a continuidade judaica seja uma realidade e não uma esperança. É cumprir nossa missão como detentores de uma tradição milenar. É dar o exemplo às futuras gerações.
“Mais do que o povo de Israel tem conservado o Shabat, o Shabat tem conservado o povo de Israel” (Achad Há’am)
Dicas práticas para um Shabat em família:
1) Vá à sinagoga na sexta-feira à noite com seus familiares. A experiência da oração em família é a melhor forma de garantir sua continuidade;
2) Ao chegar em casa, esqueça o telefone, a televisão ou o rádio. Esta é uma noite para a família. Para quê atrapalhar a magia desta reunião?
3) Tenha uma mesa preparada com duas velas já acesas, duas chalot e vinho;
4) Discuta algum tema judaico.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná