Conta-nos a Parashá que no quadragésimo ano da saída do Povo de Israel do Egito, ao chegarem ao deserto de Tsin, lá faleceu Miriam, irmã de Moisés. E, com sua morte, também o poço que manteve os israelitas vivos por quarenta anos - conhecido como Beer Miriám, o poço de Miriam - secou. Sedento, o povo se volta a Moisés e Aarão, clamando por água. Moisés, então, recebe a ordem divina para reuni-los em torno de uma rocha e, ordenando verbalmente à mesma, dela extrair o líquido vital. Contrário ao mandamento de Deus, Moisés ergue seu cajado e, golpeando-a por duas vezes seguidas, faz com que um enorme fluxo de água dela jorre. Este episódio ficou eternamente conhecido como Mei Mrivá - as águas da discórdia - pois, por desobedecer à ordem expressa de apenas falar à pedra, Moisés é punido com a proibição de entrar na Terra Prometida. Embora esta história tenha um desfecho trágico, dela podemos extrair uma linda mensagem.
Através da “água” (conceito) muita coisa pode ser explicada no judaísmo. A própria Torá é a ela comparada. A Kabalá dela se utiliza para estabelecer as relações entre Maim Duchrim (águas masculinas) e Mei Nukva (águas femininas) - conceitos místicos de emanação e captação da revelação divina. A água, em nossa literatura, de uma forma geral, é chamada de Maim Chaim - a água da vida; ela simboliza, como nenhum outro material, o ciclo vital. É de sua natureza estar em constante movimento, fluindo nos oceanos, correndo nos rios e sofrer transformações: ora do líquido para o sólido, ora do sólido para o gasoso, etc. Porém - e isto aprendemos logo nos primeiros livros de Ciências - sua essência é imutável: independentemente de seu estado, sua fórmula sempre será H2O. Nossa alma segue este mesmo exemplo: ora está na forma de “vapor” (espírito), ora em uma forma “material” (investida em um corpo); de acordo com nosso comportamento, seu estado pode variar de “líquido” (uma vida ativa) para “sólido” (inexpressiva) e vice-versa. Mas sua essência sempre permanecerá a mesma: uma chama divina que a alimenta e a revitaliza constantemente.
Afirma a Mishná que este mundo é apenas um “corredor” e, portanto, um dia chega nosso momento de voltarmos à forma original (espírito). E, quando chega esta hora a alguém querido, parece aos nossos olhos que aquele poço, outrora cheio de “água”, agora está seco; ele é substituído por uma dura rocha que, cobrindo nossos corações, faz com que pensemos que o manancial de vida chegou ao seu fim. Clamamos e choramos, pois estamos tristes, mas a pedra é sólida e muito resistente; acreditamos estar tudo acabado.
Não é verdade! A rocha - nossa tristeza e angústia - é muito dura, mas por trás dela ainda flui a vida. Às vezes com uma palavra, outras com uma ação efetiva... mas temos ao nosso alcance o poder de rompe-la e fazer com que a “água” volte a jorrar. Como judeus, não contemplamos a morte, pois ela nada mais é do que uma transição de em estado para outro, uma mudança em sua forma, jamais em conteúdo.
Diz o Zohar, obra máxima da Kabalá: “Tsadik deitpatár ishtacách beálma iatir mibechaiohi” - uma pessoa justa e querida, após sua partida, encontra-se ainda mais presente neste mundo. A vida de um falecido continua em nossos corações, através de suas memórias e recordações e em nossos atos. Pois a existência de alguém só finda quando nós assim permitimos. Como conta o Midrash Rabá, sobre o Eclesiastes:
“Um bebê, quando vem ao mundo, está sempre com as mãos fechadas, como se dissesse:
- O mundo inteiro é meu, e eu hei de conquistá-lo!
Mas esta mesma pessoa, ao partir, está sempre com as mãos abertas, como se dissesse:
- Nada tenho em meu poder; tudo o que posso levar são minhas lembranças, e tudo o que posso deixar são meus exemplos...”
Ao darmos continuidade ao trabalhos - e aos exemplos - daqueles que nos antecederam, estaremos não apenas dignificando sua memória: estaremos permitindo que eles continuem a viver através de sua obra.
Através da “água” (conceito) muita coisa pode ser explicada no judaísmo. A própria Torá é a ela comparada. A Kabalá dela se utiliza para estabelecer as relações entre Maim Duchrim (águas masculinas) e Mei Nukva (águas femininas) - conceitos místicos de emanação e captação da revelação divina. A água, em nossa literatura, de uma forma geral, é chamada de Maim Chaim - a água da vida; ela simboliza, como nenhum outro material, o ciclo vital. É de sua natureza estar em constante movimento, fluindo nos oceanos, correndo nos rios e sofrer transformações: ora do líquido para o sólido, ora do sólido para o gasoso, etc. Porém - e isto aprendemos logo nos primeiros livros de Ciências - sua essência é imutável: independentemente de seu estado, sua fórmula sempre será H2O. Nossa alma segue este mesmo exemplo: ora está na forma de “vapor” (espírito), ora em uma forma “material” (investida em um corpo); de acordo com nosso comportamento, seu estado pode variar de “líquido” (uma vida ativa) para “sólido” (inexpressiva) e vice-versa. Mas sua essência sempre permanecerá a mesma: uma chama divina que a alimenta e a revitaliza constantemente.
Afirma a Mishná que este mundo é apenas um “corredor” e, portanto, um dia chega nosso momento de voltarmos à forma original (espírito). E, quando chega esta hora a alguém querido, parece aos nossos olhos que aquele poço, outrora cheio de “água”, agora está seco; ele é substituído por uma dura rocha que, cobrindo nossos corações, faz com que pensemos que o manancial de vida chegou ao seu fim. Clamamos e choramos, pois estamos tristes, mas a pedra é sólida e muito resistente; acreditamos estar tudo acabado.
Não é verdade! A rocha - nossa tristeza e angústia - é muito dura, mas por trás dela ainda flui a vida. Às vezes com uma palavra, outras com uma ação efetiva... mas temos ao nosso alcance o poder de rompe-la e fazer com que a “água” volte a jorrar. Como judeus, não contemplamos a morte, pois ela nada mais é do que uma transição de em estado para outro, uma mudança em sua forma, jamais em conteúdo.
Diz o Zohar, obra máxima da Kabalá: “Tsadik deitpatár ishtacách beálma iatir mibechaiohi” - uma pessoa justa e querida, após sua partida, encontra-se ainda mais presente neste mundo. A vida de um falecido continua em nossos corações, através de suas memórias e recordações e em nossos atos. Pois a existência de alguém só finda quando nós assim permitimos. Como conta o Midrash Rabá, sobre o Eclesiastes:
“Um bebê, quando vem ao mundo, está sempre com as mãos fechadas, como se dissesse:
- O mundo inteiro é meu, e eu hei de conquistá-lo!
Mas esta mesma pessoa, ao partir, está sempre com as mãos abertas, como se dissesse:
- Nada tenho em meu poder; tudo o que posso levar são minhas lembranças, e tudo o que posso deixar são meus exemplos...”
Ao darmos continuidade ao trabalhos - e aos exemplos - daqueles que nos antecederam, estaremos não apenas dignificando sua memória: estaremos permitindo que eles continuem a viver através de sua obra.
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná