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Misheberach Lechaialei Tzahal

Misheberach Lechaialei Tzahal
Prece pelos Soldados de Israel - Aquele que abençoou nossos pais Avraham, Itschak e Yaakov, abençoará os soldados das Forças de Defesa de Israel, que guardam a nossa terra e as cidades de nosso D-us (...) O Santo, bendito seja Ele, guardará e livrará os nossos soldados de toda angústia e aperto, e de toda ocorrência e enfermidade, e mandará bênção e sucesso em todos os seus atos (...) e digamos AMEN. (que os méritos das preces e estudos aqui realizados sejam revertidos como bênçãos a Alisha bat Devora)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

O que você seria capaz de fazer por um grande amor?


O que você seria capaz de fazer por um grande amor? Toda vez que me deparo com esta pergunta, lembro-me da história de um simples homem chamado Akiva ben Yossef. Akiva era muito humilde e ganhava a vida pastoreando os vastos rebanhos do abastado Kalba Savua, isto lá pelo século II e.C. Como todos que precisam sustentar-se desde cedo, não teve a chance de estudar e,aos quarenta anos de idade, era um completo analfabeto.
Vai lá entender a linguagem do coração, mas a verdade é que Kalba Savua tinha uma filha, chamada Raquel. E o que aconteceu? Akiva se apaixonou por ela e vice-versa. Foi algo mágico, inexplicável. É incrível como o amor é fulminante, não é mesmo? Bom, acredito que queira saber o desenrolar dos fatos. Vamos lá.
Como podemos imaginar, Kalba Savua jamais consentiria com tal união. Raquel, por sua vez, não queria casar-se com alguém iletrado; queria, sim, algo mais que um casamento meramente comum. E, para aceitá-lo, propôs uma condição: que Akiva fosse estudar.
Que situação, não? Akiva estava confuso. Afinal, tal desafio aos quarenta anos de idade não é fácil para ninguém. Entretanto, algo ocorreu. Enquanto caminhava pela beira do rio, notou uma pedra sendo perfurada pelo incessante gotejar da água. Imediatamente, um pensamento tomou conta de sua cabeça: “se a água que é mole pode perfurar a dura pedra, certamente os ensinamentos da Torá penetrarão em meu coração”- concluiu. Eles se casaram secretamente e Kalba Savua, tomando conhecimento, expulsou-os, condenando-os à total miséria.
E pôs-se Akiva a estudar, longe de casa. Sem qualquer vergonha, lá estava ele aprendendo o Alef-Beit – o alfabeto hebraico – junto às pequenas crianças no cheder. Durante doze longos anos, assimilou cada letra, cada palavra, cada frase; tudo por sua devoção à Raquel. Conta a história que ela, por sua vez, vendia os cachos de seu cabelo para sustentá-lo.
O dia chegou. Finalmente poderia ter sua amada. Era hora de voltar. Porém, ao se aproximar de casa, ouviu-a dizendo a uma amiga: “se Akiva voltasse hoje, pediria que estudasse mais doze anos.” Ele não pensou duas vezes. Durante mais doze anos aprimorou seus conhecimentos; tudo por Raquel. Tal enredo seria tema fictício para um best-seller se este homem, um ignorante pastor, não tivesse se tornado o grande Rabi Akiva, uma dos maiores eruditos do período talmúdico, o mais sábio de sua geração, tendo nada menos que 24.000 alunos. O verdadeiro amor não é algo simples de definir. Quando nos ataca, parece instalar-se em nossos poros para nunca mais sair. Como uma revigorante injeção, anima-nos a seguir adiante com mais confiança e determinação. Afinal, como a própria Torá nos ensina: “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Nascemos para amar e somente assim encontramos o propósito de nossa criação. Curiosamente, a palavra para intimidade, em hebraico, é yediá, que também significa conhecimento. Isto quer dizer que amar, segundo o judaísmo, é o ato através do qual a pessoa conhece e se conhece. O reverso também é verdadeiro: quando deixamos de conhecer e nos conhecer, o amor tem mais chances de desvanecer.
Na Torá, encontramos mais uma linda história que nos induz a pensar na dimensão que este sentimento pode assumir. O patriarca Jacó, fugindo da ira de seu irmão Essaú, dirige-se a Charan, onde morava seu tio Labão. No caminho, ele nota um grupo de pastores ao redor de um poço, o qual estava coberto por uma pesadíssima pedra. Enquanto pedia informações, viu sua prima Raquel (curiosamente, o mesmo nome de nossa primeira personagem) se aproximando. Ao que tudo indica, foi paixão à primeira vista. Querendo exibir-se, ele sozinho remove a pedra e dá de beber ao seu rebanho. É nesse momento que a Torá descreve sua emoção: “e beijou Jacó a Raquel e levantou sua voz e chorou” (id. 29:11). Segundo o Talmud, lamentou não ter algo para presenteá-la.
Mas a narrativa não pára por aí. Para tê-la como esposa, combina com seu pai de que lhe servirá por sete anos. Parece muito? “E serviu Jacó por Raquel sete anos; e foram a seus olhos como poucos dias, por seu amor a ela” (ibid. 29:20). Mas vê seu sonho frustrado quando, na noite de núpcias, é compelido a desposar sua irmã mais velha, Léa, em seu lugar. Desistir? Nem pensar. O tempo parece não importar quando a pessoa amada está ao lado. Por mais sete anos ele serviu a Labão, para, finalmente, conquistar sua felicidade.
Amigo, é o amor que nos move. Não é à toa que a palavra Ahavá – amor – é repetida inúmeras vezes durante o Serviço Religioso. Já escrevi, certa vez, que o encontro do amor entre duas pessoas nada mais é que o próprio D-us fazendo-se presente (Lembra-se? Ahavá tem o valor numérico 13. Somando-se dois “amores”, atingimos 26, que é o valor do nome Divino). É ele uma das bases de um relacionamento, de tal modo que, apesar de o casamento ser a instituição mais sagrada de nosso povo, o judaísmo reconhece o direito que as pessoas têm de serem felizes e amadas, nem que para isso, como último recurso, seja necessário o Guet – divórcio.
E o que fazer com este amor? Divido com você um conto que muito me emociona:
O rabino estava terminando o serviço fúnebre à beira do túmulo. De repente, o senhor de 78 anos cuja mulher tinha falecido, começou a chorar: “ah, como eu amei essa mulher!”
A lamentação interrompeu o respeitoso recolhimento da cerimônia. Parentes e amigos ficaram constrangidos. Os filhos, rubros de vergonha, tentaram calá-lo: “tudo bem, pai. Nós entendemos. Shiiiu.”
O viúvo olhava fixamente para o caixão sendo lentamente baixado à cova. Enquanto as pás de terra eram jogadas, clamou: “ah, como eu amei essa mulher!” Os filhos tentavam, mais uma vez, contê-lo, mas ele continuava: “eu amei essa mulher!”
Ao final da cerimônia, o rabino se aproximou para consolá-lo: “sei como você se sente, mas é hora de ir para casa. Temos que continuar a viver.”
“Ah, como eu amei essa mulher!” – ele gemia, desconsolado. “O senhor não entende, rabino, uma vez eu quase disse isso a ela.”
A vida é uma longa viagem de trem. De tempos em tempos, a estação do amor se apresenta diante de nós. Podemos descer e agarrar a oportunidade, ou seguir viagem, para nunca mais vislumbrá-la. Se você ama alguém, diga e faça. Vale a pena! Talvez o amor não mais esteja na próxima estação. E o trem nem sempre dá à ré.


Shabat Shalom!
Prof. Sami Goldstein

Rabino da Counidade Israelita do Paraná