Você seria capaz de completar esta frase? Não, não quero que diga algo como “porque um rabino é fundamental para uma comunidade” ou simplesmente “porque sim”. Todos sabemos a importância de um rabino numa comunidade: é ele quem ministra aulas, organiza os Serviços Religiosos, celebra os marcos do ciclo da vida, etc. Enfim, todos sabemos o porquê de um rabino ser importante para todos. Diz a Mishná: “Faça para ti um rabino” (Ética dos Pais 1,6). Para ti! “Mas, não entendo...” – talvez seja sua pergunta: “Por que a Mishná dirige-se a mim? O rabino é importante para todos!” Não se preocupe: isso não é qualquer novidade até mesmo para os sábios daquela época. Entretanto, o que querem saber é se realmente a presença de um rabino é essencial à sua vida enquanto indivíduo. Muitos terão chegado ao final deste texto sem ainda conseguir preencher as reticências.
Para uns, o rabino é a solução mágica de seus problemas. Pessoas aglomeram-se em filas na agenda para expor seus tsures (palavra em ídiche para tragédias, problemas), sempre na expectativa de que o líder espiritual resolva-os o mais rapidamente possível. Como que, através de um “abracadabra”, o mentor precisa desdobrar-se de modo não frustrar seu rebanho. Claro, está entre suas atribuições ouvir, aconselhar e, dentro de sua capacidade, ajudar a resolver problemas. Como a própria palavra em hebraico para o cargo, rav, cujo sinônimo mais próximo é moré, professor e guia, o rabino é aquele quem orienta a pessoa a buscar, através de suas próprias ferramentas, a concretização de seus desejos. Entretanto, quando não o consegue, ouve-se com freqüência: “pois é, o rabino é muito bom para os outros, mas para mim...” Para outros, ele é a justificativa de sua omissão. Neste caso, o rabino é investido de uma força sobrenatural capaz de isentar pessoas do cumprimento de seus deveres: “bom, não como Kasher, mas meu rabino come” ou “rezar todo dia é coisa para rabinos; com certeza ele o faz pensando em mim”. Sem dúvida que pensa. Curiosamente, nesta situação, o inverso também é verdadeiro: “eu não como Kasher, mas se eu pegar o rabino comendo no restaurante, ah, coitado dele” ou “está certo que não rezo todo dia, mas... O rabino? Faltar um dia à reza? Que absurdo... e bem no dia que faltava apenas um para o Minián. Por causa dele não pude recitar o Kadish.” Há aqueles aos quais o rabino é a projeção do que não querem ser ou fazer: “ainda bem que temos o rabino para fazer isso, pois eu não queria estar em seu lugar.” Em determinados momentos, o rabino é necessário para que haja um culpado pelo que ocorre: “se a comunidade não sabe, é porque o rabino não ensina” ou “bem que tive boa vontade, mas o rabino nunca teve tempo para mim”. Realmente, achar um rabino é muito difícil, não é mesmo? Excetuando-se sua pesada rotina, é muito “improvável” encontrá-lo nos Serviços Religiosos ou no Shabat, simplesmente deixar-lhe um recado ou ligar para sua casa. Na pior das hipóteses, caso não tenha o número, com certeza conhece-se alguém que o tenha. Curiosamente, Moisés também era o culpado pelos problemas do povo no deserto. Aliás, é interessante como eles se lembravam do sabor dos pepinos e melancias no Egito, mas não o que por eles fizera: a libertação do cativeiro. E, se o rabino é também chamado de pastor, deve acostumar-se a esta herança milenar. O rabino é também imprescindível porque alguém precisa ser o chato da comunidade: “fui à sinagoga e o rabino brigou com todo mundo” ou “você viu o texto que o rabino escreveu? Não foi comigo que ele falou...” É próprio do rabino falar com todos e com ninguém ao mesmo tempo.
Enfim, existem tantas formas de completar a frase inicial apenas por seu lado negativo que, neste momento, paramos para refletir: será que realmente preciso de um rabino? Uns talvez cheguem à conclusão que não, não é importante. A estes, o esforço rabínico deve ser triplicado, para que vejam e, principalmente, sintam a necessidade pessoal de tê-lo. Numa etapa posterior – e juntamente com os que de imediato acreditam na vantagem de ter um rabino – a questão deve ser: como posso ajudar meu rabino? A Mishná não pede que a pessoa tenha um rabino, mas sim seu rabino. O rabino não precisa que você freqüente a sinagoga, pois é ele quem está falando em público, mas sim porque sua mensagem é importante para você. O rabino não precisa de apoio em seu trabalho – não apenas com palavras – pois é ele quem está aparecendo, mas sim porque sua missão tem como objetivo você. O rabino não adverte, pois tem prazer em fazê-lo, mas sim porque se preocupa com seu judaísmo e você. Pois a comunidade sem você é uma comunidade deficiente, carente e desprovida de um tesouro inigualável: você.
Vale a pena conferir o texto completo da Mishná: “Faça para ti um rabino” – fazer implica não apenas na existência do rabino, mas esforçar-se em que ele seja o seu – “e adquira um amigo” – se você realmente se esforçar, terá, além de um mestre, um grande amigo – fiel e dedicado –, sempre lembrando que “e sempre julgue as pessoas por seus méritos” – todos têm falhas, inclusive os rabinos; talvez não consigam fazer mágicas mirabolantes, mas nem por isso suas qualidades, virtudes e realizações podem ser desmerecidas. Os pepinos e melancias não podem pesar mais na balança da verdade.
E aí, vamos tentar? Preciso de um rabino porque...
Para uns, o rabino é a solução mágica de seus problemas. Pessoas aglomeram-se em filas na agenda para expor seus tsures (palavra em ídiche para tragédias, problemas), sempre na expectativa de que o líder espiritual resolva-os o mais rapidamente possível. Como que, através de um “abracadabra”, o mentor precisa desdobrar-se de modo não frustrar seu rebanho. Claro, está entre suas atribuições ouvir, aconselhar e, dentro de sua capacidade, ajudar a resolver problemas. Como a própria palavra em hebraico para o cargo, rav, cujo sinônimo mais próximo é moré, professor e guia, o rabino é aquele quem orienta a pessoa a buscar, através de suas próprias ferramentas, a concretização de seus desejos. Entretanto, quando não o consegue, ouve-se com freqüência: “pois é, o rabino é muito bom para os outros, mas para mim...” Para outros, ele é a justificativa de sua omissão. Neste caso, o rabino é investido de uma força sobrenatural capaz de isentar pessoas do cumprimento de seus deveres: “bom, não como Kasher, mas meu rabino come” ou “rezar todo dia é coisa para rabinos; com certeza ele o faz pensando em mim”. Sem dúvida que pensa. Curiosamente, nesta situação, o inverso também é verdadeiro: “eu não como Kasher, mas se eu pegar o rabino comendo no restaurante, ah, coitado dele” ou “está certo que não rezo todo dia, mas... O rabino? Faltar um dia à reza? Que absurdo... e bem no dia que faltava apenas um para o Minián. Por causa dele não pude recitar o Kadish.” Há aqueles aos quais o rabino é a projeção do que não querem ser ou fazer: “ainda bem que temos o rabino para fazer isso, pois eu não queria estar em seu lugar.” Em determinados momentos, o rabino é necessário para que haja um culpado pelo que ocorre: “se a comunidade não sabe, é porque o rabino não ensina” ou “bem que tive boa vontade, mas o rabino nunca teve tempo para mim”. Realmente, achar um rabino é muito difícil, não é mesmo? Excetuando-se sua pesada rotina, é muito “improvável” encontrá-lo nos Serviços Religiosos ou no Shabat, simplesmente deixar-lhe um recado ou ligar para sua casa. Na pior das hipóteses, caso não tenha o número, com certeza conhece-se alguém que o tenha. Curiosamente, Moisés também era o culpado pelos problemas do povo no deserto. Aliás, é interessante como eles se lembravam do sabor dos pepinos e melancias no Egito, mas não o que por eles fizera: a libertação do cativeiro. E, se o rabino é também chamado de pastor, deve acostumar-se a esta herança milenar. O rabino é também imprescindível porque alguém precisa ser o chato da comunidade: “fui à sinagoga e o rabino brigou com todo mundo” ou “você viu o texto que o rabino escreveu? Não foi comigo que ele falou...” É próprio do rabino falar com todos e com ninguém ao mesmo tempo.
Enfim, existem tantas formas de completar a frase inicial apenas por seu lado negativo que, neste momento, paramos para refletir: será que realmente preciso de um rabino? Uns talvez cheguem à conclusão que não, não é importante. A estes, o esforço rabínico deve ser triplicado, para que vejam e, principalmente, sintam a necessidade pessoal de tê-lo. Numa etapa posterior – e juntamente com os que de imediato acreditam na vantagem de ter um rabino – a questão deve ser: como posso ajudar meu rabino? A Mishná não pede que a pessoa tenha um rabino, mas sim seu rabino. O rabino não precisa que você freqüente a sinagoga, pois é ele quem está falando em público, mas sim porque sua mensagem é importante para você. O rabino não precisa de apoio em seu trabalho – não apenas com palavras – pois é ele quem está aparecendo, mas sim porque sua missão tem como objetivo você. O rabino não adverte, pois tem prazer em fazê-lo, mas sim porque se preocupa com seu judaísmo e você. Pois a comunidade sem você é uma comunidade deficiente, carente e desprovida de um tesouro inigualável: você.
Vale a pena conferir o texto completo da Mishná: “Faça para ti um rabino” – fazer implica não apenas na existência do rabino, mas esforçar-se em que ele seja o seu – “e adquira um amigo” – se você realmente se esforçar, terá, além de um mestre, um grande amigo – fiel e dedicado –, sempre lembrando que “e sempre julgue as pessoas por seus méritos” – todos têm falhas, inclusive os rabinos; talvez não consigam fazer mágicas mirabolantes, mas nem por isso suas qualidades, virtudes e realizações podem ser desmerecidas. Os pepinos e melancias não podem pesar mais na balança da verdade.
E aí, vamos tentar? Preciso de um rabino porque...
Prof. Sami Goldstein
Rabino da Comunidade Israelita do Paraná